A FARSA QUE SATISFAZ - OPINIÃO

Milton Flávio*
17/08/2000 17:52

Compartilhar:


Após nos dar a saber que é favorável à prisão perpétua (e o que isso importa numa eleição municipal?), o candidato do PPB à Prefeitura de São Paulo, em artigo recente publicado num grande jornal, afirma que a questão da violência urbana - um problema que amedronta dez entre cada dez brasileiros - apenas será superada com "governantes fortes, determinados e competentes". Desnecessário dizer que Paulo Maluf se julga portador desses atributos: força, determinação e competência. E talvez seja mesmo, como se verá a seguir.

Determinação, de fato, ele tem de sobra. Nos últimos anos, participou de quase todas as eleições diretas para cargos majoritários. Perdeu todas, menos a que o levou à Prefeitura de São Paulo, em 1992. Retomou, então, obras viárias caríssimas, desmantelou, entre outros, os sistemas de transporte e de saúde, arruinou as finanças públicas, mas conseguiu o seu intento: eleger Celso Pitta, um dos piores prefeitos que a cidade já teve. É, sem dúvida, um homem determinado, que não tem limites para atingir seus objetivos. Dado o número de processos a que responde, a maioria por superfaturamento e outras operações igualmente nebulosas, é certo que se há um atributo que não lhe falta é competência. Não para governar em benefício da maioria, claro. Quanto à força para resistir a tantos processos e críticas... Bem, talvez isso não seja exatamente um sinal de força, deixa para lá.

Voltemos ao ponto da segurança pública. Há poucos dias, um jornal da capital comparou os investimentos feitos na setor pelos últimos cinco governadores: Paulo Maluf, Franco Montoro, Orestes Quércia, Luiz Antônio Fleury e Mário Covas. Convém repetir os números publicados pelo periódico e não contestados pelo atual candidato do PPB à Prefeitura de São Paulo. Vamos a eles:

Nos quatro anos do governo Maluf (79-83), foram adquiridos 3.777 revólveres e pistolas e 2.010 veículos para as polícias Civil e Militar. Não se comprou nenhum colete à prova de balas, nenhum cassetete e nenhum par de algemas. Também não foi aberta nenhuma nova vaga nas penitenciárias do Estado. Talvez porque Maluf acredite que o seu nariz empinado, por si só, seja capaz de intimidar os delinqüentes. Em contrapartida, em seu primeiro mandato (95-99), o governador Mário Covas entregou às duas corporações 7.017 veículos (no atual mandato, foram entregues outros 1.923), 27.041 revólveres, 13.249 coletes, 28.000 cassetetes e 7.500 algemas. Além disso, de 95 até agora, foram abertas 24.432 novas vagas em presídios.

A esta altura, o eventual leitor desse artigo pode argumentar: "Tudo bem, mas na época do Paulo Maluf a violência era menor." Aliás, este é o argumento utilizado pelo próprio. Há de se considerar que, por uma série de fatores - tráfico de drogas, contrabando de armas, desagregação familiar etc. -, a violência tem de fato aumentado. E não é só em São Paulo e no Brasil. Infelizmente, esse recrudescimento da criminalidade ocorre em todo o mundo. Para superá-lo, é preciso mais, muito mais, que bravatas. É necessário, por exemplo, um engajamento efetivo de toda a sociedade e das diferentes esferas de governo. E o que fez a Prefeitura de São Paulo, nas gestões Maluf-Pitta, a não ser transformar a administração pública numa fábrica de escândalos?

Aos malufistas, resta um último argumento: o de que o seu candidato está, apesar do seu passado nebuloso, em segundo lugar nas pesquisas de opinião. Levantamento recente mostra que um contingente significativo do eleitorado continua disposto a votar em um candidato que não seja muito honesto, mas que faça. Fazer o que, se parte do eleitorado, por absoluta falta de informação, ainda se deixa seduzir pela farsa?

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e líder do governo na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo

alesp