PT LIGHT CLUB - OPINIÃO

Milton Flávio*
11/10/2001 11:10

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A incapacidade de lidar com as críticas e a soberba da prefeita Marta Suplicy e de alguns de seus secretários parecem não ter limites. Agora mesmo, diante da reação negativa de alguns setores da sociedade e de vereadores em relação à sua proposta de aumento do IPTU para o próximo ano, ela, para variar, saiu atirando. Disse que a Associação Comercial de São Paulo, que congrega cerca de 26 mil empresários, deveria ter "sensibilidade e vergonha de ser contra a progressividade (dos impostos) em um país como o Brasil". Quanto aos vereadores, foi taxativa: "Se fizerem muito fricote, vamos chamar a população para fazer pressão." Como se vê, quem não reza pela sua cartilha é sem-vergonha ou fricoteiro.

O que mais incomoda nesse tipo de comportamento é a arrogância - uma arrogância que considera absolutamente normal aumentar impostos num período de crise; uma arrogância que acha irrelevante o fato de sua administração, em poucos meses, firmar mais de cem contratos de emergência (sem licitação, portanto) ao custo total de R$ 270 milhões; uma arrogância que não se abala com o número absurdo de viagens ao exterior custeadas com o dinheiro público; uma arrogância que leva o governo a não investir em educação o montante previsto na Lei Orgânica do Município e na Lei Orçamentária; uma arrogância, enfim, que leva a Prefeitura a propor a diminuição de verbas para o ensino, em nome do social.

Ora, a prefeita e seus companheiros de partido precisam entender, de uma vez por todas, que as regras devem valer para todos, indistintamente, e que a crítica honesta é um direito de todos, goste-se ou não de seu teor. Ninguém é dono da ética e da verdade. Imaginem o que diriam os petistas se um eventual governo do PFL cortasse as verbas para a educação. O que diriam se a administração tucana firmasse, em pouco mais de seis meses, mais de cem contratos sem licitação? Como reagiriam diante de um governo liderado pelo PMDB que promovesse viagens e mais viagens para Paris, Buenos Aires e vários outros países, sem que elas resultassem em qualquer benefício concreto?

É evidente que o princípio da progressividade é algo desejável, por justo. Mas é preciso ter sensibilidade para perceber que, neste momento, um aumento de arrecadação como o desejado é inviável. E não se trata aqui de defender os mais ricos. Mas de não penalizar ainda mais quem, a duras penas, gera empregos formais. Quanto aos fricotes, é certo que a prefeita está se dirigindo a vários de seus companheiros de bancada - muitos dos quais envergonhados com a redução de verbas para a educação, com a criação de inúmeros cargos de confiança e com o aumento de salário diferenciado para os amigos do PT Light Club.

*Milton Flávio é deputado pelo PSDB, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp)

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