OS SEM-EDUCAÇÃO - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
02/03/2001 15:36

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A rebelião, ou motim, como querem algumas autoridades, no sistema prisional do Estado de São Paulo, revela uma face obscura de nossa sociedade. Em pleno século XXI, estamos a conviver com uma realidade medieval de homens entulhados no inferno, sem perspectiva e cada vez mais afundados na própria crueldade.

Não se trata aqui de analisar o nosso sistema penitenciário, mas de aproveitar o mote para falar do futuro, que nos espera a partir de uma situação atual de exclusão social perversa.

Já estamos vivendo na era digital e o que impulsionará o nosso processo de crescimento econômico e progresso social será o conhecimento democratizado.

Estamos largando com um atraso brutal. Enquanto os países desenvolvidos já estão discutindo a obsolescência do computador pessoal, nós temos uma sociedade ainda mergulhada no analfabetismo, para a qual computador tem ainda um sentido ficcional.

É por essa razão que me pergunto: de que vale estabilidade econômica sem alicerce?; sobre que bases haveremos de edificar o futuro das nossas próximas gerações?

O principal patrimônio de um país é seu povo. Sem demagogia, é necessário que as prioridades sejam invertidas e que haja um investimento descomunal para revolucionar o sistema educacional no país, disseminando o conhecimento e instrumentalizando a sociedade para fazer frente ao desafios de uma economia globalizada, digitalizada, desnacionalizada e cada vez mais perversa com quem não estiver preparado.

Quando falo em revolução educacional, me refiro não apenas aos sistemas convencionais de ensino, mas à disseminação de todos os instrumentos possíveis de comunicação que permitam, por meio até da auto-aprendizagem, aterrar o fosso que separa a elite da grande massa de semi-analfabetos. Por incrível que pareça, enquanto é cada vez mais necessário que as pessoas tenham acesso a meios digitais para não ficarem para trás, no Brasil, metade dos brasileiros nunca utilizou um telefone fixo.

Nosso quadro de desigualdade interna é grande. Nossa perspectiva em relação aos países desenvolvidos é de uma dependência que tende a se agravar. Dessa forma, ao invés de posarmos de emergentes, precisamos de medidas de emergência para pavimentarmos a estrada do nosso futuro. O cumprimento dessa tarefa passa pelo questionamento desse modelo econômico, que nos reserva um papel periférico, e pelo investimento maciço nos recursos humanos, ou seja, nos brasileiros.

*Arnaldo Jardim é deputado estadual pelo PPS e relator geral do Fórum São Paulo Século XXI.

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