HIPOCRISIA COMERCIAL - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
20/06/2000 18:06

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Faça o que os Estados Unidos pregam mas não ouse fazer o que os Estados Unidos fazem. Essa é a conclusão que podemos tirar de recente estudo feito pela embaixada brasileira em Washington sobre o relacionamento comercial entre os dois países.

Esse estudo explicita a disparidade entre o que cobramos de impostos dos produtos americanos e o que eles cobram dos nossos produtos. Numa média realizada entre os 15 principais produtos de exportação dos dois países, a tarifa americana chega a 45,6% contra apenas 14,3% da brasileira. Isso para falar apenas em tarifa, sem levar em conta outros tipos de protecionismos como o estabelecimento de cotas, barreiras fito-sanitárias e penalidades antidumping.

Dentre os 15 produtos que o Brasil mais importa dos americanos as taxas variam de 3% (equipamentos de transporte não militares, circuitos integrados, componentes de turbinas, peças de aeronaves) a 35% (veículos de passageiros). Já no caso das exportações brasileiras, os norte-americanos aplicam tarifa zero a 6 dos 15 produtos principais da nossa pauta mas, em compensação, capricham na taxação da nossa competitiva agroindústria, com tarifas de 236% sobre o açúcar de cana, 350% sobre o fumo, 44,7% sobre o suco de laranja e 19,7% sobre o óleo de soja.

Esses números revelam que o Brasil precisa reagir com firmeza a situações como essa e às retaliações feitas ao nosso aço, pelas autoridades americanas. Precisamos retomar o que o líder nacional do PPS, Ciro Gomes, chama de negociação altiva com o sistema financeiro internacional, na qual essas restrições abusivas aos produtos nacionais com condições de globalizar, devem estar na ordem do dia.

Não é possível a continuidade de uma política econômica que aceita sem pestanejar o ajuste fiscal imposto pelo FMI - uma instituição financeira a serviço do tesouro americano - e não oferece condições para o desenvolvimento da economia nacional, sobretudo da nossa indústria vinculada à agricultura, com grande capacidade de competir e alto potencial de geração de empregos.

Essa questão do relacionamento comercial com os Estados Unidos é um sinal de alerta para a criação da área de livre comércio entre as Américas, a Alca, defendida com unhas e dentes pelos Estados Unidos. Parece claro que antes da sua criação é preciso mudar radicalmente o atual cenário das relações comerciais entre os dois países e fortalecer o Mercosul para que as nações do nosso continente adquiram musculatura suficiente para um relacionamento mais amplo e que só terá sentido se significar uma possibilidade real de desenvolvimento.

Afinal, a globalização é bem recebida quando a via é de mão dupla. Ao contrário, ela é apenas uma nova nomenclatura para designar o velho colonialismo.

alesp