"TOMA LÁ, DÁ CÁ"

Caldini Crespo*
16/02/2001 13:24

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O recente episódio envolvendo as relações comerciais entre o Brasil e o Canadá dão uma mostra de quão desiguais são os tratamentos dispensados pelos países do primeiro mundo com seus parceiros que já foram chamados de terceiro mundo e hoje são conhecidos como países "emergentes". A improvável contaminação do rebanho bovino com o "mal da vaca louca", que teria determinado a ação "preventiva" das autoridades canadenses e, a reboque, americanas e mexicanas revelou a verdadeira face desses parceiros comerciais que parecem entender a expressão "parceria" como uma via de mão única. Ou seja, quando os interesses da sua indústria são ameaçados, lança-se de toda sorte de argumentos, acusações e insinuações (mesmo que infundadas) para aniquilar o até então parceiro que, do dia para a noite, é travestido de terrível adversário.

Está mais do que fundamentada a tese de que o boicote deflagrado pelo Canadá contra a importação de carne e derivados de carne bovina brasileira foi motivada pela contenda comercial entre a Embraer e a canadense Bombardier, que disputam o mesmo mercado de aviões comerciais de médio porte. Ao sentir a ameaça terceiro-mundista aos interesses da sua indústria, o governo do Canadá não hesitou em adotar sanções contra produtos brasileiros, no caso a carne bovina.

A reação das autoridades não apenas brasileiras, mas também de alguns outros países foi imediata e acabou colocando os canadenses contra a parede. Embora ainda não totalmente resolvido, o episódio "mal da vaca louca" deve servir de alerta para nossas autoridades no estabelecimento de parcerias futuras. É necessário que essa seja uma via de dois sentidos. O Brasil não pode continuar sendo visto no exterior apenas como um país exportador de café, laranja, minério de ferro, ou seja, os chamados produtos primários da cadeia de produção.

A indústria nacional é detentora de uma realidade tecnológica que lhe permite competir em condição de igualdade, às vezes até em vantagem, com as mais modernas do mundo, e não é possível que o protecionismo de outros países, com a adoção de medidas absolutamente contestáveis, persista e não seja punido pelos organismos internacionais que regulamentam o comércio entre os países.

O boicote canadense ao rebanho bovino brasileiro trouxe prejuízos, mas que nos sirva de lição. A chamada globalização da economia está nos levando a enxergar as relações comerciais com olhos mais atentos e nos obrigando a adotar um comportamento até mais agressivo como resumiu o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, ao afirmar que o Brasil será o país do "toma lá, dá cá".

Exigir a reciprocidade dos parceiros comerciais deixou de ser um comportamento politicamente incorreto e acabou por transformar-se numa necessidade de sobrevivência.

*Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL.

alesp