O recente episódio envolvendo as relações comerciais entre o Brasil e o Canadá dão uma mostra de quão desiguais são os tratamentos dispensados pelos países do primeiro mundo com seus parceiros que já foram chamados de terceiro mundo e hoje são conhecidos como países "emergentes". A improvável contaminação do rebanho bovino com o "mal da vaca louca", que teria determinado a ação "preventiva" das autoridades canadenses e, a reboque, americanas e mexicanas revelou a verdadeira face desses parceiros comerciais que parecem entender a expressão "parceria" como uma via de mão única. Ou seja, quando os interesses da sua indústria são ameaçados, lança-se de toda sorte de argumentos, acusações e insinuações (mesmo que infundadas) para aniquilar o até então parceiro que, do dia para a noite, é travestido de terrível adversário.Está mais do que fundamentada a tese de que o boicote deflagrado pelo Canadá contra a importação de carne e derivados de carne bovina brasileira foi motivada pela contenda comercial entre a Embraer e a canadense Bombardier, que disputam o mesmo mercado de aviões comerciais de médio porte. Ao sentir a ameaça terceiro-mundista aos interesses da sua indústria, o governo do Canadá não hesitou em adotar sanções contra produtos brasileiros, no caso a carne bovina.A reação das autoridades não apenas brasileiras, mas também de alguns outros países foi imediata e acabou colocando os canadenses contra a parede. Embora ainda não totalmente resolvido, o episódio "mal da vaca louca" deve servir de alerta para nossas autoridades no estabelecimento de parcerias futuras. É necessário que essa seja uma via de dois sentidos. O Brasil não pode continuar sendo visto no exterior apenas como um país exportador de café, laranja, minério de ferro, ou seja, os chamados produtos primários da cadeia de produção.A indústria nacional é detentora de uma realidade tecnológica que lhe permite competir em condição de igualdade, às vezes até em vantagem, com as mais modernas do mundo, e não é possível que o protecionismo de outros países, com a adoção de medidas absolutamente contestáveis, persista e não seja punido pelos organismos internacionais que regulamentam o comércio entre os países. O boicote canadense ao rebanho bovino brasileiro trouxe prejuízos, mas que nos sirva de lição. A chamada globalização da economia está nos levando a enxergar as relações comerciais com olhos mais atentos e nos obrigando a adotar um comportamento até mais agressivo como resumiu o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, ao afirmar que o Brasil será o país do "toma lá, dá cá".Exigir a reciprocidade dos parceiros comerciais deixou de ser um comportamento politicamente incorreto e acabou por transformar-se numa necessidade de sobrevivência. *Caldini Crespo é deputado estadual pelo PFL.