A AMÉRICA REDESCOBERTA - OPINIÃO

Arnaldo Jardim
04/10/2001 19:26

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Não foram apenas prédios e vidas que desapareceram em 11 de abril de 2001, nos atentados terroristas aos Estados Unidos. Implodiram também supostas verdades que sustentavam a ideologia neoliberal, da globalização, entre as quais estava a crença de que era preciso evitar gastos públicos a todo custo, deixando ao mercado a solução natural dos problemas. Pouco importava se esse política aprofundasse as desigualdades sociais entre as nações e dentro delas.

Os atentados foram a gota d''água a transbordar situações latentes que vinham sendo gestadas há tempos. Sucederam-se pedidos de ajuda pública a empresas em dificuldades e num piscar de olhos o governo americano anunciou uma injeção de 100 bilhões de dólares em investimentos para reativar a economia.

Ao invés de irados protestos, os profetas do mercado - economistas das mais variadas e respeitadas instituições internacionais, passaram a recomendar investimentos públicos como forma de evitar a recessão generalizada no mundo. Deram uma pausa na aplicação da cartilha neoliberal, caracterizada pela defesa da total desregulamentação, livre fluxo de recursos e pelo bordão "o mercado resolve tudo". Agora alertam para a necessidade de instrumentos de controle que evitem a instabilidade financeira; solicitam a aplicação de recursos para reativar a economia e criar empregos; apregoam a adoção de regras claras no comércio internacional, na linha da proteção dos mercados. Note-se que nem tiveram a humildade de reconhecer os méritos daqueles que já haviam alertado para a necessidade de medidas desse tipo e que, por isso mesmo, foram taxados de "neobobos" e "dinossauros".

Os emergentes, a exemplo do Brasil, onde o governo FHC colocou a "intocável lei do mercado" acima do bem e do mal, agora estão a descobrir que foram seduzidos e enganados. Espero que possam sair do pedestal e reconhecer os erros, afastando de vez essa tolice de levar às últimas conseqüências o déficit zero como sinônimo de modelo econômico.

Não se governa um país administrando apenas fluxo de caixa e é preciso entender que a estabilidade econômica é desejável, mas não se sustenta por si só: precisa estar acoplada a uma política sustentável de geração efetiva de riquezas, o que pressupõe, por exemplo, políticas agrícolas e industriais.

"O Estado mínimo", como sempre afirmamos, é uma grande falácia, e está aí o Sr. Alan Greenspam para não nos deixar mentir. Ao reconhecer a necessidade de injetar dinheiro público para impedir que a "maionese desande", fez o óbvio ou, como diriam amigos meus do interior, "descobriu a América".

Se ele descobriu a América, os nossos neoliberais estão sendo também obrigados a redescobrir o Brasil. Eles, que abominaram a adoção de política públicas - não se viu qualquer diretriz na área industrial ou suporte às empresas nacionais e vivenciou-se a liquidação de toda sorte de subsídios e apoio à atividade agrícola - já estão, tardiamente, se defrontando com um Brasil que a miopia globalizante escondeu. Um Brasil real, que se preservou e desenvolveu. Um Brasil distante de Brasília e que, em 2002, vai virar o jogo e eleger quem tem compromissos com o desenvolvimento efetivo da Nação.

*Arnaldo Jardim é engenheiro civil, presidente estadual do PPS, e foi secretário da Habitação (1993) e relator geral do Fórum SP Séc. XXI.

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