O ESCANDALOSO LUCRO DOS BANCOS - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
14/03/2002 18:27

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Recebi outro dia de um internauta uma mensagem que comparava, a partir do dia do lançamento do plano real (1º julho de 1994) até hoje, o rendimento de R$ 100,00 numa poupança e os débitos do cheque especial, para a mesma quantia, no mesmo período. O pobre poupador teria hoje R$ 374,00. O desavisado tomador do empréstimo teria uma dívida de R$ 139.259,00.

Guardada as devidas proporções do exemplo, o fato é que o setor financeiro tem sido o grande privilegiado nestes oito anos de governo Fernando Henrique. Enquanto o conjunto da economia brasileira permaneceu praticamente estagnada, o setor financeiro nadou de braçada e apresentou lucros espetaculares. Vale a pena citar algumas manchetes de jornais dos últimos 30 dias: Rentabilidade do bancos dobrou em oito anos de real (Valor Econômico - 11 de março); Banco rende mais que indústria e comércio (Folha de S. Paulo - 24 de fevereiro); Imposto do Salário sobe 54%, de bancos, 12% (Folha de S. Paulo - 9 de março); Ganhos de bancos aumentam 111% (Folha de S. Paulo - 6 de março).

Apesar de chocante, este fato é lógico e guarda relação direta com o modelo econômico do governo, cuja estabilidade está centrada numa grande ciranda financeira com juros altos, alta dependência de capital externo e completa ausência de política para o setor produtivo.

Os bancos são sócios, parceiros e beneficiários diretos do governo FHC. Trata-se de uma relação simbiótica onde um se alimenta do outro: o governo vende aos bancos títulos da dívida pública para se financiar e os bancos se alimentam via riscos baixos e alta rentabilidade. E assim vai se empurrando com a barriga este país chamado Brasil, sem lhe dar rumo e condições objetivas para sair do cheque especial e viver sustentadamente de riquezas que pode e deve produzir.

É evidente que não se trata de condenar o lucro, mas é impossível deixar de constatar que em 94, no início do processo de estabilização monetária, os dez maiores bancos privados do país lucraram R$ 3 bilhões e sete anos depois, em 2001, este lucro saltou para R$ 8,4 bilhões. Ao mesmo tempo o imposto de renda pago por estas mesmas instituições financeira não seguiu a mesma regra e caiu pela metade.

Isto, num período de carga tributária crescente, certamente para alimentar a ciranda financeira, cujo rodar constante é a única garantia da continuidade da atual política econômica. Se a roda pára, o país quebra. Enquanto isso os bancos sorriem, o setor produtivo pena e a sociedade amarga o crescimento dos desníveis sociais.

Você poderia me perguntar, no entanto: os bancos lucram, mas concedem empréstimos e financiam a produção? Ledo engano, o crédito está cada vez mais escasso e hoje as instituições financeiras estão mais para agiotas do que para financiadores. É tão grande e tão fácil o lucro que até mesmo as indústrias tradicionais, como a automobilística, resolveram montar bancos para operacionalizar o financiamento dos seus veículos, agregando desta forma valor a um produto industrializado cuja margem de lucro tem diminuído.

É óbvio que a estabilidade econômica e a saúde do setor financeiro são vitais para o Brasil. Mas é preciso parar de viver de jogatina e cair na real: sem um setor produtivo forte não se produz divisa e não se cria independência econômica. Consequentemente, não se gera renda, nem emprego e muito menos se é possível tirar milhões e milhões de brasileiros do estado de mais profunda miséria.

Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil, foi secretário da Habitação, em 1993,

relator-geral do Fórum SP Séc. XXI e presidente estadual do PPS.

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