NOSSA JUVENTUDE, NOSSO FUTURO - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
29/06/2000 15:45

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Estudo recente da Fundação Perseu Abramo, divulgado pelo jornal Valor, nos revela a quantas anda a relação do jovem brasileiro com a cultura.

Os números indicam a porcentagem de jovens brasileiros que nunca freqüentou algum tipo de espetáculo cultural: chega a 15% no caso do cinema; 52% em relação a museus; 46% quando se trata de teatro; 30%, no caso de espetáculo de música brasileira; 59% para show de rock, pop, funk e 77% para espetáculos de música clássica.

Se restringirmos o universo dos pesquisados àqueles que têm apenas o primeiro grau verificamos que, no caso do teatro o número dos que nunca freqüentaram sobe para 64%; no de música brasileira, para 38% e nos espetáculos de música clássica para 77%.

Ao mesmo tempo as atividades mais freqüentadas pelos jovens, segundo a pesquisa, são shopping center (64%); praça ou parque público (59%); festa em casa de amigos (52%); bar com amigos (42%) e Mc Donalds (40%).

Faltam dados comparativos para uma análise mais aprofundada sobre o comportamento atual da juventude, mas preocupa a atração pelos shopping centers, que simbolizam uma sociedade de consumo que valoriza o material e passageiro em detrimento de questões mais sólidas e perenes como a educação e a cultura. Vale lembrar recente sugestão de um líder comunitário do Morro da Mangueira no Rio, que disse que uma das formas de conter a violência era fornecer roupas de grife para os jovens do lugar.

É importante ressaltar ainda que o número de espetáculos gratuitos tem crescido muito nos últimos anos e mesmo assim não tem sido suficiente para atrair nossa juventude que, ao mesmo tempo, se mantém ávida de conhecer gente e se relacionar. A questão é: como, por quê e de que forma esse relacionamento está se dando?

Havia um tempo em que os jovens se reuniam nos centros acadêmicos, nas praças, nos centros comunitários, nas igrejas para desenvolver atividades culturais, que muitas vezes se desdobravam em outros tipos de participação. Hoje há uma sensação de vazio no ar e parece que a vida vai sendo vivida sem muito sentido: joga-se o jogo da vida com as regras dadas, sem esperança nem desejo de transformação.

O universo cultural é fundamental ao ser humano. Ele dá asas à imaginação, alimenta sonhos, cria dúvidas, provoca reflexões, instiga-nos e semeia em nossos corações e mentes anseios de transformação. Nossa relação com esse universo começa na infância mas incendeia na juventude, período em que consolidamos nosso caráter, nossa personalidade e no qual delineamos o futuro das nossas vidas.

Sem querer reviver situações passadas ou comparar coisas distintas, é necessário que tenhamos um carinho especial para com o relacionamento dos nossos jovens com a cultura. Afinal esse contato com o universo cultural é essencial para o desabrochar de desejos incontroláveis de melhorar o mundo. E se eles não aflorarem na juventude, fica difícil acreditar na capacidade das gerações futuras tornarem melhor o nosso mundo.

ARNALDO JARDIM

Deputado Estadual

Engenheiro Civil, 45

Secretário da Habitação (1993)

Relator Geral do Fórum São Paulo Séc. XXI

Presidente Estadual do PPS

E-mail: arnaldojardim@uol.com.br

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