AS PROMESSAS DE TUCANOS "BONS DE BICO" - OPINIÃO

Afanasio Jazadi*
06/03/2002 16:32

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Não bastassem as notícias chocantes a respeito do avanço da violência e da criminalidade no Estado de São Paulo, a população paulista acaba sendo sacudida por atitudes absurdas das autoridades que deveriam zelar pela segurança pública. É mesmo incrível o fato de o governador Geraldo Alckmin ter anunciado que não pagará à família Dotta, da cidade de São Paulo, a gratificação por ele prometida em janeiro - num momento de aperto - a quem viesse a fornecer pista sobre seqüestradores.

Logo após o seqüestro e a morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, quando a opinião pública mais cobrava do governo estadual uma ação eficaz da polícia contra esse caos da segurança que se instalou em nosso Estado, Alckmin acenou com um prêmio de R$ 5 mil a R$ 50 mil para os eventuais denunciantes. Pois bem: a família Dotta, moradora da casa vizinha ao imóvel usado por seqüestradores como cativeiro do publicitário Washington Olivetto, no bairro do Brooklin Paulista, avisou à polícia sobre estranhos barulhos e acabou contribuindo para a elucidação do caso, paralelamente à prisão de terroristas estrangeiros no município de Serra Negra.

Mesmo assim, o governador disse que não pagará a gratificação, alegando que a polícia já tinha pistas e chegaria sozinha a Olivetto e aos bandidos. Alckmin comprova que, como autêntico tucano, é "bom de bico", não cumpre promessa a exemplo de tantos outros políticos de seu partido. A mentira tem perna curta. Políticos do PSDB acostumaram-se a fazer promessas e acabam condenados pela memória dos cidadãos. No governo estadual, foi assim nos tempos de Mário Covas e assim prossegue com o sucessor Geraldo Alckmin.

Quero ressaltar, antes de tudo, que em minha carreira de jornalista, radialista e deputado estadual, consolidei uma longa experiência em estudos sobre a criminalidade e passei a exigir soluções drásticas das autoridades. Não escondo que sou a favor da pena de morte para quem comete crimes hediondos, verdadeiramente bárbaros. Tenho defendido que bandido tem de ir para a cadeia e não deve ser tratado com a compaixão apresentada por certos defensores de direitos humanos. Fui o idealizador do Disque Denúncia, já no início da década de 80, em meu programa diário de rádio de São Paulo, em que estabeleci recorde brasileiro de audiência. Portanto, sempre defendi a necessidade de a população colaborar com a polícia, sem maiores riscos, para que criminosos sejam presos.

Sou a favor do pagamento de gratificação para pessoas que fornecem às autoridades alguma notícia capaz de levar a polícia ao bandido. Pode parecer algo dos tempos do faroeste americano, em que eram espalhados cartazes de "procura-se" nos mais remotos vilarejos da Califórnia e do Arizona, mas defendo a tese de que os criminosos têm de ser combatidos com todas as armas ao nosso alcance. O curioso é o fato de o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, ter prestigiado apenas em parte o projeto de lei de uma deputada estadual tão tucana quanto ele, Célia Leão, do PSDB da assustada região de Campinas. Alckmin sancionou a lei aprovada pela Assembléia Legislativa em 2001 e chegou a dizer que logo regulamentaria tal proposta de criar gratificações de R$ 5 mil a R$ 50 mil para quem der informações sobre bandidos perigosos. O episódio do prêmio não pago à família Dotta demonstra que os tucanos têm bela plumagem, mas acostumam-se à falsidade.

*Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

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