CPI ouve noiva de investigador que apurava conexão Atibaia e advogados de traficante


28/06/2000 17:56

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A CPI do Narcotráfico continua apurando a morte de Luciano Sturba, assassinado em 20 de maio passado. Luciano era investigador do Denarc e assessorava a CPI nos trabalhos sobre a conexão Atibaia, uma suposta rede de transporte de drogas em aviões de empresários daquela cidade. Nesta quarta-feira, 28/6, pela manhã, os deputados ouviram o depoimento de Maria Cristina Caderno, noiva de Luciano durante nove anos e sócia dele na empresa de táxi aéreo Luma, e se espantaram ao saber que ela não foi procurada até hoje pela polícia, para depor sobre a morte do investigador.

Cristina trouxe poucas informações à CPI sobre o trabalho de investigação que Luciano realizava. "Ele era muito reservado", disse. Ela fez um resumo das atividades e da formação da Luma. Segundo Maria Cristina, a empresa era proprietária de apenas uma aeronave. Quando Luciano foi morto, o aparelho passava por uma revisão na oficina Cheyenne, no aeroporto de Atibaia, próxima ao hangar pertencente a Odarício Quirino Ribeiro, apontado como um dos membros da conexão Atibaia. Há informações de que Luciano efetuaria a prisão de Odarício e de José Gomes Filho, dono de oficina que também era ligado ao transporte de drogas, no dia seguinte ao de sua morte. Gomes foi preso no início de junho e Odarício continua foragido.

A CPI ouviu ainda o empresário Sérgio Koizimi, que também foi sócio de Sturba na Luma.

A Comissão deu prosseguimento aos trabalhos na parte da tarde, tomando os depoimentos dos advogados Blademir de Oliveira e Gilmar Barbosa. Ambos trabalharam para o traficante Mário Sérgio Machado Nunes, preso na Ilha de Cabo Verde com um carregamento de 70 quilos de cocaína, numa operação frustrada de descarregamento da carga, que levou ao afundamento de um avião e à prisão de três pessoas. O traficante conseguiu fugir da penitenciária daquele país e voltou ao Brasil. Os advogados disseram não conhecer o paradeiro atual de Mário Sérgio.

Blademir de Oliveira disse ter trabalhado para Mário Sérgio em algumas pequenas causas e atuado em conjunto com advogados cabo-verdianos no referido episódio da apreensão da droga. Relatou ainda alguns empreendimentos de Mário Sérgio e negou que seus cartões de crédito tivessem sido usados pelo traficante, que ficou impedido de movimentar contas bancárias. O deputado Celso Tanauí (PTB) considerou que, pelo relato dos investimentos empreendidos por Mário Sérgio, ele espalhava dinheiro por todo o país, necessitando para tanto de pessoas para operar financeiramente. Oliveira disse que talvez a família de Mário Sérgio esteja controlando as contas bancárias. Mas reparou que o patrimônio atual do traficante não é tão vultoso, pois teria sido dilapidado e restado apenas dois apartamentos e uma casa.

Gilmar de Oliveira relatou que conheceu Mário Sérgio há quase trinta anos, quando este veio de Pernambuco e iniciou suas atividades como contabilista em Ribeirão |Preto, e que lhe prestou serviços advocatícios em 1994. Também afirmou conhecer sua atividade como empresário, desde a criação da Atlas Contabilidade, depois de uma microdestilaria, uma empresa de rolamentos, e finalmente uma indústria de cozinha, sendo na liquidação desta última que atuou como advogado.

Gilmar de Oliveira disse ter sido surpreendido ao saber do envolvimento de Mário Sérgio com o tráfico de drogas. "Eu supunha que os recursos empregados em seus investimentos viessem de sua atividade como lobista político. Sabia de suas relações com políticos em Brasília, como o seu tio, o senador Nivaldo Machado, Marco Maciel, Inocêncio de Oliveira, Jader Barbalho, Henrique Santilho, Ricardo Fiuza."

Questionado por Celso Tanauí sobre a vertiginosa ascensão econômica do contador, Oliveira respondeu: "Todo mundo fala, mas eu nunca vi. Sempre morou em modesto apartamento. E o máximo de ostentação que pude testemunhar foi a aquisição de uma Pajero."

alesp