O GENOMA, A OMC E A UNIVERSIDADE PÚBLICA - OPINIÃO

Jamil Murad*
09/02/2001 15:53

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O genoma significa que cada espécie de ser vivo possui em suas células um certo número de tipos de cromossomos. Na espécie humana o genoma é 23, já que temos 23 tipos de cromossomos. O Genoma do feijão é 11, o do cavalo é 32, e assim mundo a fora.

A OMC E SEU GENOMA

Os cromossomos da Organização Mundial do Comércio (OMC), braço forte do FMI são visíveis a olho nu. São predadores e com forte hereditariedade para o lucro fácil.

Lá do outro lado do mundo, exatamente nos meados de 1994, os países ricos que compõem a OMC, que dizem regulamentar o comércio mundial, assinaram um acordo geral para sistematizar o comércio de serviços (AGCS). Pasmem, a educação foi incluída e considerada serviço da mesma forma que os serviços prestados por empresas comerciais, daí a razão (deles) da educação estar inclusa na Organização Mundial do Comércio!

O interesse da educação pela OMC é a educação de nível superior, que forma profissionais para o mercado de trabalho, e que também interessa aos movimentos financeiros mundiais predatórios, essas forças invisíveis que compõem a globalização. Em nenhum documento produzido por essa reunião se fez notar o interesse por criação ou investimentos na universidade pública! Mas, sim, a determinação mercantilista de transformar a educação em mercadoria, a privatização da educação em todos os níveis e de todas atividades culturais. Ou seja educação tem que ser paga, afinal estamos falando de um mercado onde grandes investidores mundiais vão dividir um bolo de bilhões de dólares. A educação totalmente privatizada representa esse mercado de serviços altamente lucrativo, novo e de sabor agradável ao paladar dos capitais.

A OMC DEVERIA SER GENETICAMENTE MODIFICADA.

Na reunião da OMC em 3 de dDezembro de 1999, 135 ministros do comércio mundial estavam reunidos em Seattle, cuidando de seus interesses.

E 53 países pobres ou em desenvolvimento não foram convidados.

Daí a prepotência e arrogância dos ricos.

A França recusa terminantemente que a educação e as ações culturais estejam no âmbito de natureza comercial. Não se sabe se essa postura também será a do Brasil.

Provavelmente não.

Os Estados Unidos impõem a exportação de suas universidades, privadas é claro. Como uma rede de lanchonetes, desta que a gente vê todos os dias, para substituir a universidade pública.



E NO BRASIL?

O neoliberalismo e alguns setores da mídia faz crer na superioridade e na eficiência da iniciativa privada. "Privado bom, público ruim".

Sou do tempo que aprender mesmo só na escola pública, quem queria moleza ia para escolas privadas. A mesma praga que atingiu essas escolas públicas de ensino médio, falta de investimentos, falta de política educacional, falta de plano de carreira para os docentes, também vai contaminar a universidade pública. E o que se viu, o sistema educacional público sucateado, e a privatização do ensino médio, tornando a educação de ensino médio uma mercadoria cara. No Brasil a campanha de sucateamento das universidades públicas já está em andamento. Tal campanha é comparada a Xilella Fastidiosa, a bactéria da praga da laranja conhecida como "amarelinho" que impede a laranjeira de receber os nutrientes e a água que vem da raiz para as folhas da laranjeira, impedindo a laranja de crescer e se desenvolver. É exatamente o que se dá na universidade pública: cortam-se os investimentos e os frutos minguam, daí privatiza-se.

O FMI hoje fez uma recomendação ao governo do FHC e ao ministério da educação que a universidade pública deve cobrar uma taxa dos alunos!

De boas intenções o inferno está lotado, dizer que a universidade pública é gratuita é "conversa para bovinos nanar", o ensino público já é cobrado da sociedade pelos impostos. Cobrar do estudante da universidade pública é cobrar duas vezes pelo mesmo serviço! Não importa se ele é rico ou pobre, não se paga duas vezes pelo mesmo serviço.

E mais, sem que efetivamente essa pseudo-receita tenha peso no orçamento da universidade pública e no seu desenvolvimento, pesquisas e produção científica.

Outra idéia travestida de modernidade é que o Brasil deveria se concentrar em promover o ensino médio, deixando o ensino superior à mercê da iniciativa privada, como se faz nos países adiantados.

Ora, penso ouvir "cigarrinhas", é exatamente ao contrário.

Nos países desenvolvidos, as matrículas de alunos em universidades públicas chega a 92% na França e a quase sua totalidade 99% na Grã-Bretanha. Os outros 28% passam sua vida acadêmica em instituições privadas e fundações que na sua maioria são subsidiadas diretamente e indiretamente pelo governo americano.



A UNIVERSIDADE PÚBLICA, A FÁBRICA DE CÉREBROS.



Professores mais preparados e mais qualificados estão na universidade pública!

Universidade Pública 10 x 2 Universidade Privada!

Avaliadas 10 escolas. Sendo duas de Administração, duas de Engenharia Civil, três de Odontologia, e de Direito, Engenharia Química e Veterinária, da USP, receberam classificação A.

A editora Abril, na publicação de seu guia de estudante, analisou 5.186 cursos, levando em conta a infra-estrutura, instalações, recursos didáticos, equipamentos e laboratórios, titulação e regime de trabalho. Consultou professores universitários, cientistas, pesquisadores e profissionais da área da educação, chegando à classificação das 12 melhores universidades e contemplando 425 cursos. Em primeiro lugar, aparecem a USP, a UNICAMP e a Unifesp, em segundo a UFMG, seguida pela UFSC, UFRGS, PUC-RJ, UFSCar, PUC-SP, UNB e UFG.

Das 12 melhores universidades, apenas duas são privadas, a PUC-SP e a PUC-RJ.

A pesquisa universitária modifica a economia, gera divisas e promove distribuição do conhecimento

A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz de Piracicaba (ESALQ/USP) desenvolveu novas variedades de eucalipto de fibra longa, matéria fundamental para as indústrias de celulose e papel.

A USP e o IPT estudam uma bactéria com a propriedade de produzir um polímero que dá origem a um plástico biodegradável. Uma usina piloto já produz 60 toneladas por ano.

O projeto Genoma, com recursos da Fapesp, deu um passo fundamental para ampliar a nossa capacitação científica, explorar com responsabilidade nossa biodiversidade e competir na produtividade agrícola mundial.

Centros de excelência no Brasil deram brilhantes e valiosas contribuições para o desenvolvimento da agricultura. A Universidade Federal de Viçosa, nas Minas Gerais, sistematizou estudos sobre a fixação de nitrogênio por bactérias, associadas com raízes de plantas, realizados na Universidade Rural do RJ, com relevância no cultivo da soja.

Pesquisadores da Universidade Pública desenvolveram processos para a indústria petrolífera que sem eles não existiriam os pólos petroquímicos baianos, nem as técnicas de perfuração em águas profundas. Técnica das mais avançadas no mundo.

E mais milhares de exemplos, alguns até esquecidos como Florestan Fernandes, Sérgio Buarque de Holanda que desenvolveram seus trabalhos no âmbito da Universidade Pública!



MENTIRAS SOBRE A UNIVERSIDADE PÚBLICA

Os alunos da Universidade Pública são ricos?

Não são, a maioria dos universitários brasileiros pertencem à classe média.

Custa caro manter o aluno na universidade pública?

Não, o custo do aluno é menor que dos países adiantados. Mas é veiculada a idéia de que o aluno no Brasil custa caro, fruto de um cálculo que inclui gastos com hospitais universitários, gastos com inativos, manipulando assim o custo verdadeiro do aluno.

A Universidade Pública deve cobrar uma taxa dos alunos?

Não, o ensino público não é gratuito, ele é pago pela sociedade através dos

impostos. Cobrar do aluno é cobrar duas vezes pelo mesmo serviço!

A Universidade Pública será melhor se privatizada?

Seguramente não, nos países adiantados e no Brasil também, a universidade pública tem um papel fundamental no desenvolvimento e produção científica de qualidade e alto nível que se dá através das pesquisas. Essas pesquisas só podem ser financiadas por fundos públicos! A razão é bastante simples: a pesquisa é uma atividade da universidade pública cara, e o seu retorno se dá a longo prazo, por isso é pouco atrativa para o imediatismo da iniciativa privada.

Lá atrás, quando falei da qualidade e da seriedade do ensino médio público, a máxima no Brasil era: "Ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil", passados esses anos todos tenho encontrado tão poucas saúvas quanto pessoas comprometidas com a promoção e investimentos na universidade pública.

A defesa da universidade pública garante ao Brasil e seus filhos melhores condições sociais, eqüidade na distribuição do conhecimento, divisas, soberania nacional, propriedade de patentes importantes para o desenvolvimento científico, da criação intelectual, nas artes, nas letras, nas ciências humanas, nas ciências naturais e exatas, e principalmente na identidade do povo brasileiro.

*Jamil Murad, 58 anos, deputado estadual, é líder da bancada do PCdoB na Assembléía Legislativa de São Paulo.

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