Mensalão e a carga tributária

Opinião
06/06/2005 18:47

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Citei em um artigo, no primeiro ano do governo Lula, um antigo historiador e o sociólogo árabe do século XIV" Ibn Khaldun " e para minha surpresa encontro na bombástica entrevista de Roberto Jefferson uma frase que resume uma das "leis" da filosofia da história descritas pelo autor: "É mais barato pagar o exército mercenário do que dividir o poder". É entristecido que vejo hoje que a análise foi mais "profética" do que esperava, lamentando que o país tenha chegado tão baixo no cenário traçado.

O artigo falava do déficit público e do papel devastador da carga tributária sobre a economia de uma nação, demonstrando o como era antigo o conflito entre Estado e sociedade devido ao peso dos impostos. Khaldun também apontava o fato da sanha tributária gerar um círculo vicioso, pois a corrosão da credibilidade do governo exige que este busque apoio e suporte não mais na força das tribos da nação, mas em administradores e exércitos mercenários em quem pode confiar, os quais precisam ser mantidos a custos cada vez mais altos, gerando necessidade de mais impostos.

Na época me impressionou o quanto um texto escrito há 600 anos permanecia atual; não deixa de ser curioso dois anos depois até mesmo o artigo parece "profético":

Khaldun já apontava, naquela época, o círculo vicioso de impérios destruídos pela sanha tributária de seus dirigentes, os quais necessitavam do dinheiro para manter tropas e viver no luxo. O aumento das taxas fazia com que as tropas necessárias à sua coleta fosse cada vez maior e ao mesmo tempo reduzia a prosperidade nacional, fazendo com que fossem precisos sucessivos aumentos de tributos para compensar a queda da arrecadação, gerando mais insatisfação, portanto requerendo mais tropas e assim por diante em um círculo vicioso que sempre terminou na ruína definitiva do país.

Não devemos ficar chocados apenas com a corrupção, com os mensalões que compram consciência por atacado, mas também não se pode esquecer em momento algum a origem dos recursos que acabam nos bolsos daqueles que estão dispostos a se vender. Se a corrupção não deixa sua assinatura nem passa recibo, o aumento irrefreável da carga tributária ao mesmo tempo em que pouco ou nada se vê de aplicação destes recursos é certamente um sintoma de um governo que está doente.

É evidente que o PT não tem, nem nunca teve, projeto plausível para o país. Contudo é inaceitável que sejam os trabalhadores e o setor produtivo que paguem por esta carência de idéias, argumentos e propostas de Lula e seus partidários, nos obrigando a bancar com tributos cada vez mais caros os mensalões destinados a pagar tropas mercenárias.

*Vaz de Lima é deputado estadual pelo PSDB, sociólogo e advogado especializado em administração pública.

alesp