Argentinos e brasileiros desejam soluções comuns para cadeia produtiva da pecuária bovina


29/08/2000 16:24

Compartilhar:


"A Cadeia Produtiva da Pecuária Bovina: Produção Animal e a Cadeia Produtiva do Couro e do Calçado" foi tema do primeiro bloco de debates do seminário sobre pecuária bovina. Participaram como expositores Carlos Sersale Di Cerisano, subsecretário de Relações Econômicas Internacionais de Buenos Aires; João Carlos de Souza Meirelles, secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo; Carlos Bueno, presidente da Câmara do Calçado Argentina; Estevam Ferreira, assessor da subsecretaria da Indústria e Comércio da

Argentina; Arnaldo José Frizzo Filho, vice-presidente do Centro das Indústrias; e Ivânio Batista, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados.

Carlos Di Cerisano disse que o processo de integração entre as economias argentina e brasileira deve se dar em três níveis complementares: o político, o legislativo e o empresarial. Quanto à cadeia produtiva do setor pecuário, defendeu um modelo que integre a produção de gado, as indústrias frigoríficas, de tratamento de couro e de calçados e outros. Segundo ele, "esta cadeia produtiva se justifica não somente pelas vantagens comparativas do setor, mas pela demanda externa de todos os produtos e subprodutos do setor pecuário, particularmente dos que têm maior valor agregado." Acrescentou que o caminho para o complexo agroindustrial gadeiro são as exportações. E defendeu um trabalho conjunto entre os dois países para explorar suas vantagens comparativas e competitivas frente aos mercados extra-Mercosul, que consistiria na participação conjunta em feiras internacionais de manufaturas de couro; promoção de missões comerciais com a mesma finalidade, e, no âmbito do Mercosul, estabelecer padrões comuns de qualidade e posições idênticas diante de terceiros mecanismos de integração regional.

O secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, João Carlos Meirelles, apresentou números do setor. Informou que a indústria está distribuída por todo o país e que as exportações brasileiras dessa cadeia produtiva têm grande importância na balança comercial: em 1999, a exportação de carne bovina gerou 820 milhões de dólares, a de couro 600 milhões e a de calçados 1,33 bilhão.

Ainda segundo Meirelles, Brasil e Argentina juntos possuem um rebanho de 235 milhões de cabeças, colocando-se assim como uma das principais regiões exportadoras de carne e produtos bovinos do mundo. Diante disso, Meirelles defende um protocolo de ação conjunta entre institutos de pesquisa dos dois países para desenvolver a harmonização de regras sanitárias, de classificação e tipificação de carcaças e regras de rastreabilidade, capazes de permitir identificar a origem, local da apascentamento, formas de abate, armazenamento e os aspectos ambientais envolvidos, além da criação de uma legislação com princípios unificados.

Outro assunto tratado por Meirelles foi a ação conjunta de organismos de saúde e dos institutos de zoonose que permitam a transparência de métodos de identificação e de combate a doenças e epidemias. Referiu-se, particularmente, aos mecanismos de diagnósticos rápidos que combatam eficazmente os focos de febre aftosa, como os que, recentemente, se constaram nos rebanhos do norte da Argentina e do sul do Brasil.

Na continuidade do seminário, os expositores brasileiros e argentinos que representam os setores de curtume e calçadista concordaram que, apesar de todas as divergências e conflitos existentes entre as duas economias, é possível uma atuação conjunta para que a região do Mercosul ofereça ao mundo produtos com maior valor agregado e mais diversificados. Representando as indústrias brasileiras de curtume, Arnaldo José Frizzo Filho advertiu que o fenômeno das alianças de empresas de ramo de couro argentinas com outras de países não pertencentes ao Mercosul está em vias de também acontecer no Brasil. "Se não abrirmos nossas cabeças, teremos uma grande transferência de nossas indústrias de couro para terceiros países."

Ivânio Batista, representando o setor calçadista brasileiro, ponderou que o futuro desse setor nos países membros do Mercosul depende de esforços direcionados a obter conquistas conjuntas de mercados, "do contrário, diz ele, continuaremos a digladiar numa guerra autofágica, na qual todos sairemos perdendo".

alesp