APRENDENDO A PEGAR ÔNIBUS - OPINIÃO

Antonio Duarte Nogueira Júnior*
15/06/2000 16:50

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Sem saber ler nem escrever, milhões de brasileiros não conseguem sequer pegar um ônibus. Memorizam as primeiras letras que vêem coladas na frente do veículo e, até as reconhecerem, já perderam a condução. Essa história é uma forma de humanizarmos a discussão sobre os avanços que estamos tendo no setor educacional e a realidade de uma parcela significativa da população que precisa ser modificada por meio do ingresso à educação institucionalizada.

O sistema educacional brasileiro melhorou muito. Se na década de 60 tínhamos 40% de analfabetos e outros 40% de crianças em idade escolar longe das salas de aula, o cenário brasileiro hoje é mais animador. Principalmente nos últimos cinco anos, os índices de escolarização média e atendimento, por exemplo, têm crescido em um ritmo mais intenso.

De 1995 a 1999, o percentual de crianças de 7 a 14 anos freqüentando alguma escola passou de 89% para 96%. O número de alunos que concluíram o ensino fundamental saltou de 50% em 95 para 63% no ano passado, o que provocou também um aumento nos índices de atendimento nos níveis subseqüentes.

Esse aumento em pontos percentuais é significativo se considerarmos que o Brasil possui cerca de 54,2 milhões de alunos. É o mesmo que dizer que quase um terço da população está na escola. No entanto, o setor ainda convive com contrastes regionais, que atingem sobretudo a região nordeste do Brasil.

São atualmente 15,2 milhões os brasileiros que não sabem ler ou escrever. No Nordeste, 26% da população acima de 15 anos nunca freqüentou escola. A média brasileira para esta faixa etária é de 13%. Na população acima de 50 anos daquela região, o analfabetismo chega a 33%. O contraste é mais evidente se confrontarmos os números do Nordeste com os dos Estados do Sudeste e do Sul do país, onde o sistema educacional possui menos de 2% da população acima de 15 anos que não lê nem escreve.

Outro desafio para o setor é elevar o gasto anual por aluno. O Brasil investe anualmente em educação o equivalente a 4,8% do seu Produto Interno Bruto, gasto semelhante ao da Espanha. A diferença é que como o número de alunos brasileiros é maior, o investimento por estudante ainda é considerado baixo. No ensino fundamental, por exemplo, cada estudante brasileiro custava, em 1997, R$ 637,00. Nos Estados Unidos, o investimento é de R$ 4.081,00 por ano para cada aluno.

Pelas perspectivas do Ministério da Educação, a tendência é que o índice de analfabetos caia progressivamente, principalmente na parcela da população com mais de 15 anos, resultado do investimento em ações descentralizadas, aplicação de recursos em equipamentos pedagógicos e melhor distribuição do dinheiro no setor.

Os avanços na Educação tomaram velocidade nos últimos anos e estamos conseguindo reduzir o índice de analfabetos. Eram 20% da população em 1991 e 13% em 1999. Daqui a alguns anos serão menos e o sistema educacional estará melhor. É uma luz para os brasileiros que perdem ônibus, não sabem assinar o próprio nome e ainda vivem no escuro.



*Antonio Duarte Nogueira Júnior é engenheiro agrônomo, deputado estadual, vice-líder do governo na Assembléia Legislativa e vice-presidente do PSDB de São Paulo. Foi secretário de Estado da Habitação no governo Covas (95/96).

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