Opinião - A família no pós-moderno


22/02/2010 16:32

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"Meu filho não me ouve", "ele fica o tempo todo em frente à tela do computador", "eu e meu filho nem nos falamos mais". Essas, dentre tantas outras, são reclamações rotineiras de pais descontentes com a dependência que seus filhos tem da internet. A família, que antes era vista como um grupo com laços afetivos eternos, deixou de ter seu valor aos olhos desses jovens modernos. Hoje, a internet pode possibilitar a troca de informações dos mais variados assuntos, envio de e-mails, bate-papos e a visualização de informações de qualquer parte do mundo.

A internet nasceu de pesquisas militares desenvolvidas na Guerra Fria com o intuito de manter sigilosas a comunicação e as informações das bases militares dos Estados Unidos frente à possibilidade da destruição total do Pentágono. Mas, em 1993, essa ferramenta deixou de ser utilizada apenas pelo setor acadêmico e militar, e passou a ser explorada comercialmente e em nível mundial. A partir daí, o que era para ser apenas uma ferramenta, tornou-se, em muitos casos, uma busca doentia pelo irreal, um "mundo virtual" em que cada uma das pessoas escolhe fugir de sua realidade.

Segundo o livro "Superciber. A civilização místico-tecnológica do século 21", de Ciro Marcondes Filho, acreditar que a vida é um sonho faz parte da perspectiva social daqueles que acreditam ser possível uma vivência em que as relações com o outro passam, necessariamente, pelo computador e pela rede. O que ocorre é que a internet, em maior escala que a TV, apresenta uma situação em que as simulações do ideal são cada vez mais bem elaboradas. Por isso, muitos decidem não viver mais na realidade, o que explica porque muitos jovens vivem quase que 24h por dia em frente à TV ou ao computador.

A interferência da internet na vida das pessoas é algo tão sério que muitos têm sido afetados em seu desempenho no trabalho, nos estudos, nas relações familiares e sociais em virtude de uma relação de dependência com as novas tecnologias. Quantas horas foram perdidas frente à tela de um computador? O que poderíamos ter feito durante todo esse tempo?

Não podemos fazer vistas grossas a essa problemática. As famílias se dividiram, os filhos nem ao menos se sentam à mesa com seus pais nas principais refeições do dia, a comunicação agora é virtual e, em muitos casos, menos humana. Os pais precisam entender que é necessário dialogar com seus filhos e até mesmo limitar, se necessário, o acesso à internet ou à TV. Essa nova geração não pode ser formada por vivências virtuais e utópicas, precisa de limites. As novas mídias, se não forem manipuladas com cuidado, impedem a formação de indivíduos autônomos e independentes, pessoas capazes de julgar e de decidir por si mesmas.

A dependência na internet já é considerada uma patologia pela maioria dos profissionais da saúde: o problema chega a ser comparado à dependência química. Em várias partes do mundo existem grupos de tratamento para viciados em internet. Em São Paulo, o Hospital das Clínicas possui tratamento especializado para esse tipo de caso. O Instituto de Psiquiatria do hospital trata uma turma por semestre, em grupos de 15 a 20 pacientes. O projeto pode ser acompanhado pelo site www.dependenciadeinternet.com.br. Além do HC, o Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) da Universidade Federal de São Paulo e o Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática (NPPI) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, também atendem esse tipo de paciente. Essas são iniciativas positivas, que podem ser repetidas por outros estados brasileiros.



*Gilmaci Santos é deputado estadual e presidente estadual do PRB. Também participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento.

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