Opinião - O legado de um brasileiro


10/03/2010 16:08

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"Não faço nada sem alegria", diz o selo colocado nos livros do bibliófilo e empresário José Mindlin, que morreu no dia 28 de fevereiro, aos 95 anos, em São Paulo. Quem o conheceu diz que a frase escolhida por ele e retirada de um dos ensaios de Montaigne, define muito bem quem foi este homem.

Mindlin foi o responsável pela organização da maior e mais relevante biblioteca privada do país, doada à Universidade de São Paulo em 2006. Dentre os livros e manuscritos históricos de sua coleção destacavam-se as obras brasilianas, que somam 40 mil volumes. Membro da Academia Brasileira de Letras, o empresário tinha um cuidado incomum com os seus livros, ele possuía obras raras e originais e, ao lado de sua mulher, buscava conservar e digitalizar todas as obras. Acredita-se que Mindlin tenha sido o maior colecionador de livros de nosso tempo.

O homem que deixou um legado para os paulistanos é lembrado com muito carinho por aqueles que o conheceram de perto; jornais, revistas, programas de televisão e locutores de rádio homenagearam e lembraram de momentos que puderam acompanhar de perto, até mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou o imenso amor de Mindlin à cultura.

Mais que um bibliófilo, ele foi um resistente ao regime autoritário de 1964, além disso foi jornalista e ex-secretário de cultura de São Paulo. Em um país em que a cultura ainda não é colocada entre as prioridades, José Mindlin queria dividir com milhares de pessoas o prazer da leitura. Ele mostrou ser possível amar a leitura e os livros mesmo em uma época em que isso não é muito valorizado.

Na atualidade, muitos discutem o fim dos livros e dos jornais, dizem que logo o papel será extinto, mas acredito que nada se compara ao privilégio de ter um exemplar original com anotações dos autores mais respeitados de todos os tempos, e isso Mindlin tinha orgulho de possuir. Nenhum livro era considerado apenas mais um, para ele cada um tinha uma história e era colecionado com muita estima.

Precisamos cultivar essa cultura da leitura de livros em nossas crianças e adolescentes, não podemos aceitar que essa nova geração seja, literalmente, criada pela TV e internet. A literatura traz vivências e experiências que talvez nunca obteríamos se não fosse por meio da leitura. A partir dos livros somos transformados em indivíduos críticos e pensantes.

O novo reitor da USP, João Grandino Rodas, disse que o acervo pessoal de José Mindlin, em papel e também digitalizado, será abrigado em um dos prédios mais modernos da universidade, sob a responsabilidade da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, a inauguração está prevista para o próximo ano. Agora é só aguardar para que possamos conhecer de perto as obras colecionadas por um dos maiores bibliófilos de todos os tempos.



*Gilmaci Santos é deputado estadual e presidente estadual do PRB. Também participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento.

alesp