Opinião - Infância, a idade sagrada


21/10/2011 19:33

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No mês da criança, profissionais de diversos veículos de comunicação tecem comentários e desenvolvem matérias sobre a importância de ser criança, além da função dos pequenos na sociedade, e porque não dizer no mercado consumista. O mês de outubro é hoje um período muito lucrativo para o comércio de celulares e smartphones. Em 2010, segundo dados do instituto de pesquisas Nielsen, a venda de smartphones nesse período só não foi maior que em dezembro - 9,7% no mês das crianças, contra 16,5% no natal.

Nesta semana, a imprensa voltou a discutir o assunto, citando pesquisas que vêm mostrando um crescimento no uso do celular ainda nos primeiros anos de idade. Esta nova concepção de interação com o meio já faz parte da realidade brasileira há algum tempo, mas também tem afetado o público infantil.

Dados recentes do Ibope Nielsen Online também mostraram que crianças de 2 a 11 anos já representam 13,7% do total de internautas no país. Hoje, são 10,5 milhões de consumidores que navegam na internet. No mês passado, por exemplo, o publico infantil passou, em média, 17 horas e 34 minutos na internet. Esse interesse tem feito empresas desenvolverem conteúdos e tecnologias específicas para essa idade.

Acredito que todas as descobertas tecnológicas foram, sim, avanços para a humanidade, pois faz parte da natureza humana a busca por mais conhecimento e também por novas tecnologias que facilitem a vida das pessoas. Mas a sociedade capitalista deixou de propor novas tecnologias apenas para facilitar nossas vidas. Na verdade, somos bombardeados por informações e propagandas que propõem todo um estilo de vida baseado nas novas tecnologias. O grande problema é que se para nós adultos isso é um tanto sedutor, para uma criança ainda em formação é algo que pode comprometer seu desenvolvimento. Esse novo modelo social em que a criança é inserida logo cedo pode não ser nada frutífero se os pais não tomarem os devidos cuidados.

A infância é um período fundamental, ou como diria a terapeuta Evânia Reichert, que no título de um de seus livros já anuncia "Infância, a Idade Sagrada " anos sensíveis em que nascem as virtudes e os vícios humanos". A autora fala sobre a importância da infância e dos pais na formação do indivíduo. Mas acredito também que a relação da criança com o meio em que vive pode ser completamente destruída se as novas tecnologias não forem utilizadas de forma equilibrada e no momento certo. Hoje vemos pequenos que praticamente abandonaram o convívio social para passar horas frente ao computador, videogame, TV ou mesmo celular.

A nova geração fica longe das ruas e das brincadeiras que desenvolviam habilidades e preparavam-nos para conviver em sociedade. Hoje, vemos crianças com problemas de saúde comuns em adultos, porque deixaram de praticar atividades físicas próprias de sua faixa etária. Os computadores e celulares farão, obrigatoriamente, parte da vida dessas crianças em um futuro tão próximo, para que antecipar isso?

Devemos pensar no desenvolvimento tecnológico não como objetivo final, mas como meio para o ser humano crescer e evoluir, algo criado apenas para servir ao ser humano, não para escravizá-lo. Precisamos rever o estilo de vida de nossos pequenos, de maneira a incentivá-los a ter vivências adequadas as suas respectivas idades. A sociedade não precisa de crianças que sejam gênios ou pequenos adultos, mas que sejam apenas indivíduos em desenvolvimento, que brincam e pensam no que serão quando crescerem. Isso faz lembrar-me de um versículo bíblico que se encaixa perfeitamente a este raciocínio: "Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança", (1 Coríntios 13:11).



*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido.

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