QUANDO O CRIMINOSO É REINCIDENTE- OPINIÃO

Afanasio Jazadi*
05/03/2002 18:16

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Vejam só o que aconteceu em pleno centro da cidade de São Paulo, no fim de setembro. Os assaltantes José Wagner dos Santos, de 37 anos, Francisco Rodrigues do Prado Filho, de 51 anos, e a estudante M.R.C.S., de 16 anos, armados com uma faca, uma pistola e um revólver, dominaram o proprietário e sete funcionários da lapidação de pedras preciosas Higa, situada no terceiro andar de um prédio da Rua Benjamin Constant. Eles pretendiam roubar ouro, diamantes e dinheiro, mas acabaram sendo presos pela polícia.

A polícia, avisada por um funcionário do prédio, chegou no momento em que os ladrões obrigavam o dono da joalheria a abrir o cofre. José Wagner e Francisco haviam cheirado cocaína durante o assalto e acabaram engolindo cerca de 20 anéis com brilhantes e diamantes, antes de entregarem suas armas aos policiais.

Para libertar os oito reféns, os bandidos exigiram a presença de jornalistas e de câmaras de televisão, como garantia. Eles chegaram a ameaçar os reféns, mas o caso terminou bem, com a prisão dos assaltantes. Esses criminosos ainda tiveram de passar pelo hospital, uma vez que as radiografias acusaram as jóias em seus estômagos.

Mas vejam só as características desses bandidos: José Wagner e Francisco contaram que planejaram o assalto em conjunto. Francisco Rodrigues do Prado Filho, conhecido como Nenê, passou os últimos 24 anos na prisão. Ele havia sido condenado a 100 anos de reclusão, mas conseguiu a redução da pena. Ao ser libertado, voltou a aprontar, mostrando-se um caso típico de reincidente. José Wagner dos Santos havia sido julgado e condenado a 42 anos de prisão, dos quais cumpriu 15. Mais um reincidente.

O que tem sido assustador é o número de assaltos com seqüestro que ocorrem não só na gigantesca cidade de São Paulo como também em municípios do Litoral e do Interior. Além de tudo, parece que as cenas cinematográficas daquele caso em que o empresário e apresentador de TV Silvio Santos foi mantido como refém acabou estimulando determinados bandidos a fazer o mesmo que os daquela quadrilha. Criminosos passam a fazer exigências, sempre ameaçando matar reféns. Só falta também exigir a presença do governador Geraldo Alckmin, como aconteceu no episódio de Silvio Santos.

O problema é que a violência criminal em nosso Estado continua incontrolável. A cada dia, temos novos casos estarrecedores. O próprio governador Geraldo Alckmin, que mostra vontade em superar as dificuldades herdadas do seu antecessor Mário Covas, admite que a segurança pública é o grande desafio de São Paulo e de seu governo. Para ele, a idéia de vincular recursos financeiros da segurança ao orçamento do Estado, estabelecendo uma cota obrigatória para ser destinada ao setor, seria eficaz, desde que aplicada nos âmbitos federal, estadual e municipal. A segurança teria, a exemplo do que ocorre na educação, um percentual definido no total do orçamento.

Dinheiro pode, de fato, ajudar nosso Estado a combater o crime. Afinal, dinheiro assegura a compra de equipamentos e de viaturas para a polícia e pode corrigir os salários tão baixos dos policiais civis e militares. No entanto, é preciso também levar em conta que nada disso servirá para solucionar os problemas se o comando da segurança pública paulista continuar puramente teórico e nada prático.

Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

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