Entidades traçam estratégias da campanha pelo sim ao desarmamento


07/07/2005 19:44

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Com a aprovação do referendo sobre a proibição de venda de armas e munições no país, na quarta-feira, 6/7, pela Câmara dos Deputados, entidades da sociedade civil começam a se preparar para a campanha pelo "sim" ao desarmamento. O referendo será realizado em 23/10, e está previsto horário gratuito na TV, rádio e na mídia impressa para grupos a manifestação dos grupos parlamentares favoráveis e contrários à proibição.

Beatriz Cruz, coordenadora do Projeto Rede pelo Desarmamento, do Instituto Sou da Paz, esclareceu que já há em todo o Brasil comitês pelo desarmamento. No começo deste ano, formou-se uma frente para mobilizar diversos setores da sociedade, como sindicatos, associações religiosas, esportivas e de pessoas deficientes " muitas deficiências são adquiridas em razão de ferimentos por arma de fogo.

No estado, o Comitê Desarma São Paulo pretende estimular diversas ações para mobilizar lideranças locais em municípios do interior. A finalidade é formar multiplicadores, conscientizar a população local para a necessidade de promover a cultura da paz e rejeitar a violência.

Kit de mobilização

As reuniões de formação de multiplicadores são constituídas de reuniões em locais de agregação de pessoas no município, como a prefeitura, a câmara, o clube, escola ou igreja, palestras sobre o assunto e a distribuição do "kit de mobilização pelo desarmamento": CD, material informativo e cartilha com o Estatuto do Desarmamento em linguagem simplificada.

Para Beatriz Cruz, o maior mérito do referendo é colocar o debate para a sociedade: "é o momento de a sociedade escolher como quer viver, se quer viver num mundo de paz ou num mundo violento." Aos que criticam o desarmamento, alegando que não é a solução do problema da violência, Beatriz argumenta: "o problema da violência é multicausal, é complexo, o desarmamento é o primeiro passo para uma cultura da paz.

Números

Desde julho de 2004, quando se iniciou a campanha pelo desarmamento, até junho deste ano, já foram recolhidas no Brasil 360 mil armas de fogo. São Paulo teve a maior quantidade de armas entregues: 113,4 mil. Em seguida, vem o Rio de Janeiro, com 33,8 mil, e Rio Grande do Sul, com 28,4 mil.

Os últimos dados contabilizados pelo DataSus sobre mortes causadas por arma de fogo são de 2002: foram 38 mil mortes. Entretanto, dados do mesmo instituto, ligado ao Ministério da Saúde, estimam que houve em São Paulo uma redução de 7% no número de internações por ferimentos à bala na rede hospitalar. No Rio, a redução foi de 10,5%.

Direito de defesa

Entretanto há discordância sobre os dados estatísticos. Segundo o deputado Afanasio Jazadji (PFL), os números apresentados não são totalmente comprovados e também não permitem estabelecer uma relação direta entre o desarmamento da população e a queda da violência. "É mesmo possível acreditar na propaganda oficial de que caiu o número de assassinatos em nosso estado? E mais: até que ponto uma eventual queda teria a ver com o demagógico Estatuto do Desarmanento, que convenceu milhares de cidadãos pacíficos a entregar suas armas às autoridades nos últimos meses?", questiona Afanásio, que defende o direito de o cidadão possuir armas para sua defesa.

Referindo-se à recente concessão de habeas corpus à jovem Suzane Von Richthofen, acusada de ordenar a morte dos pais, Afanásio diz: "vale alertar os analistas apressados que o assassinato do casal Von Richthofen ocorreu a golpes de bastões de ferros e não a tiros de revólver. Isto significa que armas do tipo das usadas naquele crime podem ser compradas em lojas de material de construção ou mesmo furtadas de um canteiro de obras".



Na Assembléia Legislativa, conselho promove a Cultura de Paz

Na Assembléia Legislativa, a tragédia do 11 de setembro inspirou a criação do Conselho Parlamentar pela Cultura de Paz (Conpaz). Instituído pela Resolução 829/2002, o Conpaz é composto por representantes de 35 organizações governamentais, não-governamentais, tradições religiosas e espirituais, sociedade civil, parlamentares e indivíduos com vocação para ações voluntárias e solidárias voltadas para a impementação da Cultura de Paz.

Além de implementar a Cultura de Paz na política e nas políticas públicas, são finalidades do conselho inspirar políticas justas, propor ações preventivas, aprimorar processos de negociação e mediação de conflitos, discutir temas estratégicos, mobilizar para o trabalho conjunto em prol da paz na sociedade e promover ações que integrem a sociedade, a iniciativa privada, os governos e as instituições.

alesp