O pai dos pobres

Opinião
05/05/2005 16:38

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Os petistas, em geral, são mestres na arte de desqualificar seus adversários políticos. Para atingir seu objetivo maior " chegar ao poder e aparelhar o Estado, para no poder continuar ", desconhecem limites. Pouco lhes importa os prejuízos que eles possam, eventualmente, causar à honra alheia. Os fins justificam os meios. Suas bravatas derivam dessa convicção errática e leviana. Que, em lá chegando, levem às últimas conseqüências os vícios que antes condenavam, é apenas um detalhe maior que virou regra nas administrações públicas sob seu comando.

Apesar disso, não causa nenhuma estranheza que, agora, eles se sintam melindrados com as críticas que são feitas aos " perdão, leitor " governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Marta Suplicy. Uns e outros não perdem a oportunidade de vir a público para reclamar da suposta tentativa da oposição, PSDB à frente, de "desconstruir" as duas administrações. Bobagem. Não se pode "desconstruir" o que não foi construído por incapacidade evidente. No caso, o melindre é obra do cinismo, simples mecanismo de defesa.

O tamanho do rombo que a ex-prefeita deixou nas contas da Prefeitura paulistana fala por si, e nos dá a dimensão de sua irresponsabilidade fiscal. O presidente, por sua vez, parece ter chegado a um ponto de não-retorno: só lhe resta aprofundar o alheamento em que vive. Para ele, não há outra saída. Que seja feliz a seu modo. Muitos de seus ex-companheiros de sindicato devem estar ávidos por ver e tocar os suvenires que Sua Excelência angariou em seu périplo pelo mundo.

É verdadeiro que parcela expressiva da sociedade ainda se deixa levar pela sua retórica sem-lógica, pelas suas falas sem qualquer conexão com o mundo real. Trata-se de uma gente simples, quase romântica, que acredita que a mera vontade possa substituir o trabalho e a qualificação intelectual. Não pode. Como já começa a perceber um número crescente de pessoas.

O presidente não se cansa de alardear, contra todas as provas, a excelência de seu governo. Compreende-se. Ninguém costuma atirar contra o próprio pé. Agora, que ele continue se achando um "homem sem pecados" e afirmando inverdades cabeludas, é algo inaceitável, que nos remete a uma dúvida atroz: ele mente deliberadamente, ignora os assuntos sobre os quais discorre com a ênfase dos insensatos ou " o que é pior " acredita mesmo no que fala?

Em tempo: o IBGE acaba de divulgar os resultados de uma pesquisa feita nas seis maiores regiões metropolitanas do país. Os resultados são claros: na comparação entre março deste ano e o mesmo mês de 2002, cresceu brutalmente o número de pessoas que ganham menos que um salário mínimo e entre um e dois salários mínimos por mês. E Lula ainda se acha o "pai dos pobres".

*Milton Flávio (PSDB-SP) é deputado estadual e professor de Medicina da Unesp (Botucatu)

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