A fragilidade do sigilo das informações sobre consumidores foi debatida hoje, na reunião da CPI das Financeiras. "Esse sigilo não existe", concluiu o relator da comissão, deputado Aldo Demarchi (PPB). Para reforçar essa afirmação, Demarchi anexou aos autos da CPI a ficha de um brasileiro ilustre, elaborada pela Centralização dos Serviços Bancários (Serasa): o presidente Fernando Henrique Cardoso. "Se podemos obter os dados do presidente, que até por questão de segurança deveriam ser preservados, o que dizer das informações sobre brasileiros comuns?", questionou.A CPI ouviu novamente o presidente da Associação Nacional dos Devedores de Instituições Financeiras (Andif), Aparecido Donizete Piton. Ele confirmou dados que havia apresentado aos deputados em reunião realizada no início de abril. Segundo Piton, a Serasa, formada por 81 acionistas - ligados às instituições bancárias -, recebe dados de 116 milhões de contribuintes que declaram Imposto de Renda, por meio de convênio com a Secretaria da Receita Federal. "A Serasa faz uso desses dados para lucrar", ele advertiu. Piton informou ainda que essas informações estão disponíveis para cerca de 330 mil empresas associadas à Serasa. "Com apenas uma senha, qualquer uma dessas empresas pode inserir o nome de um cidadão no cadastro de inadimplentes", alertou.Os deputados ouviram também - com reservas - o depoimento do diretor da financeira Fináustria, Moisés dos Santos Jardim. A empresa é ligada ao banco BBA Creditanstalt. Jardim disse aos deputados que a Fináustria obtém recursos no mercado a juros de 1,70% ao mês e financia, sobretudo na venda de veículos, com taxas mensais de 2,5% a 3%, índice que subiria a 11% no caso dos inadimplentes.Ele foi evasivo quando o presidente da CPI, deputado Claury Alves da Silva (PTB), apresentou queixas contra a empresa no Procon, apontando cobrança de juros de 37% ao ano e de diversas outras taxas. Os deputados também ficaram desapontados com o fato de Jardim ter sido nomeado diretor da Fináustria no dia 30 de abril. Ocupa o cargo, portanto, há dois dias.No início da reunião, foi lido parecer da Procuradoria da Casa que contesta os motivos alegados por empresas bancárias para não atender às convocações da CPI. Elas alegam que o Estado não tem competência para investigar o sistema financeiro nacional. A Procuradoria da Assembléia ressalta, em seu parecer, que o objetivo da CPI é proteger o consumidor, com o qual as instituições financeiras mantêm relação como fornecedora de serviços, através da assinatura de contratos. O Estado teria, portanto, competência legal e administrativa para investigar a violação aos direitos do consumidor.