Opinião - Um (bom) lugar para nascer


16/09/2011 16:28

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As mulheres e, especialmente, as gestantes do Estado de São Paulo têm motivo para comemorar. Em atitude sensível e reafirmando a importância à saúde e à vida como prioridade de sua gestão, o governador Geraldo Alckmin sancionou projeto de minha autoria e transformou em lei o Programa de Proteção à Mãe Paulista. Agora, todas as grávidas terão direito a transporte gratuito " para que não faltem às consultas de pré-natal e puerpério ", remédios durante toda a gestação, leito hospitalar para dar à luz, enxoval e assistência até o primeiro ano de vida do bebê. Um grande avanço que põe nosso Estado na vanguarda dessa temática. Mas nem sempre foi assim.

Sou médico ginecologista e obstetra e trabalhei por muito tempo em hospitais públicos paulistanos. Conheço o dia a dia dos pronto-socorros, perdi a conta dos partos que já fiz. Mas a indignação que senti 15 anos atrás, ao ver uma mãe perder seu filho por não ter como pagar o ônibus para ir fazer o pré-natal, ainda hoje me incomoda.

Baixas taxas de mortalidade infantil e materna são indicadores importantes. Não por acaso, estão entre os critérios do Índice e Desenvolvimento Humano, estudo feito pela ONU, que, entre outras coisas, pode elevar o grau de investimento em um país. Porém, quando se fala em perda de vidas é impossível pensar apenas em estatísticas.

Como expressou o cineasta Marcelo Masagão, no documentário Nós que aqui estamos por vós esperamos, "numa guerra não morrem milhares de pessoas. Morre um que tinha uma namorada, um que cantava...". Da mesma forma, quando vidas se perdem por causa da inépcia do Poder Público, não se trata só de números. São destinos ceifados prematuramente. É a vida de um garoto que gostaria de ler ou jogar futebol que se perde, é a história de uma menina brilhante que não se realiza. É o desrespeito ao direito de nascer em condições dignas.

Em 2001, quando cheguei à Câmara Municipal, como vereador de São Paulo, sentia essas inquietações. E, em meu primeiro projeto de lei, lancei a base daquele que se tornaria o Programa Mãe Paulistana cinco anos depois, graças ao então prefeito José Serra. Em sua administração, o problema que fez aquela mãe perder seu filho foi corrigido. E, hoje, os números dessa iniciativa comprovam seu sucesso: são 520 mil partos, 4 milhões de exames de pré-natal e puerpério, 600 mil ultrassonografias obstétricas. E a mortalidade infantil e materna caiu. Segundo o Ibope, o programa é aprovado por 94% das usuárias.

Por tudo isso, como deputado estadual, não pude deixar de fazer da criação do Mãe Paulista minha primeira ação na Assembleia Legislativa de SP " e agradeço o apoio dos deputados e do secretário estadual de Saúde, Giovanni Cerri. Sei das nossas conquistas na saúde. Mas sei também da necessidade de medidas que valorizem a gestação, a concepção e o pós-parto. Por esse motivo, percebo a conquista que é a sanção do Mãe Paulista, que levará para toda SP os benefícios hoje assegurados às grávidas da capital.

Parabenizo, sim, as mulheres que num passado menos distante do que gostaríamos tinham de perambular de hospital em hospital atrás de leito para ter seus filhos.Agora, todas elas têm espaço reservado para dar à luz, e muitos outros direitos. Mas parabenizo também a todos os futuros cidadãos. Nossos filhos e filhas, netos e netas, que encontrarão em nosso Estado um lugar melhor para se nascer. E um lugar melhor para se viver.



*Carlos Bezerra Jr. é médico ginecologista e obstetra, deputado estadual pelo PSDB, membro da comissão de Saúde e vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos

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