Opinião - Sucateamento da ferrovia paulista e os acidentes frequentes


26/04/2011 15:21

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Ocupei a tribuna da Assembleia Legislativa no dia 13 de abril para comentar o descarrilamento de 12 vagões de uma composição da América Latina Logística (ALL) na cidade de Bálsamo, ocorrido um dia antes. Mais de 80 toneladas de soja foram derramadas no meio ambiente e cabos de fibras óticas foram rompidos, deixando inúmeros usuários de telefonia sem o serviço durante algumas horas. O menor dos males, já que ninguém se feriu.

Na ocasião cobrei do setor competente atitudes urgentes e fiscalização mais intensa e rigorosa da empresa concessionária para que a manutenção da ferrovia fosse ampliada. Trilhos deslocados, dormentes podres, grandes comboios e uma série de outros fatores certamente iriam contribuir para novos descarrilamentos ao longo do trecho no território paulista. E assim ocorreu.

Na manhã do dia 22, uma sexta-feira, cinco vagões saíram dos trilhos e tombaram na região central de Catanduva, interior do Estado. A composição com 90 vagões carregados com soja havia partido de Mato Grosso do Sul e seguia em direção ao porto de Santos. Uma fábrica quase foi atingida e as ruas próximas ao acidente ficaram interditadas.

Tive o cuidado de levantar os últimos acontecimentos semelhantes. Três vagões descarrilaram na cidade de Meridiano há menos de um mês, enquanto em Rio Preto, no mês de março, 10 deles também saíram dos trilhos e outros oito tombaram. Em Botucatu, próximo a um bairro residencial, foram derramados 200 litros de álcool. O mais grave aconteceu em Bauru, no início do ano. Mais de 100 mil litros de combustíveis vazaram no meio ambiente, houve explosões e 15 pessoas tiveram ferimentos.

O sucateamento da malha ferroviária ficou mais evidente a partir do encerramento do transporte de passageiros em 1999, quando o Decreto Federal 3.277 dissolveu a Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) e marcou o início das privatizações. Em 2001 já não era possível viajar de trem de São Paulo para o interior e o transporte de carga dominou os trilhos. Sobraram apenas algumas linhas metropolitanas e outras turísticas. Nada mais.

Enquanto se discute implantação de um trem-bala que pretende ligar São Paulo ao Rio de Janeiro no valor de R$ 33 bilhões, as ferrovias que existem agonizam dia após dia nas mãos de algumas concessionárias. A manutenção tem acontecido de forma lenta e ineficiente, e os trilhos estão se transformando em verdadeiras armadilhas.

Nunca é demais lembrar a morte do professor rio-pretense Silvio Pereira, atropelado com seu carro por um trem da ALL em março deste ano quando cruzava a ferrovia em direção ao seu trabalho. Ele, que foi o primeiro transplantado de córneas em Rio Preto e que lutou tanto para poder enxergar, perdeu a vida pela ausência de sinalização suficiente e adoção de medidas preventivas por parte da concessionária para a locomoção no perímetro urbano.

É fundamental que a Secretaria Estadual de Logística e Transportes cumpra o que está previsto nas suas atribuições em relação à concessionária das ferrovias no território paulista, que é a fiscalização. Exigir os cuidados necessários para a segurança da população é a atitude primordial de um governo responsável. E que a empresa, por sua vez, pense no seu desenvolvimento econômico sem agredir o meio ambiente e as pessoas. É o mínino que podemos esperar.

Não dá para correr o risco de futuros descarrilamentos em áreas urbanas de maior densidade demográfica. Quando o negócio é preservar vidas, não há investimento tão alto que não possa ser custeado.



*Sebastião Santos é deputado estadual pelo PRB.

alesp