Opinião - Valorizar e cuidar da vida


19/04/2011 18:23

Compartilhar:


A morte está no ar. Desde 7/4 a tragédia ocorrida no Rio de Janeiro, que resultou na perda da vida de 13 jovens e adolescentes de uma escola pública, ocupa jornais, telejornais e emissoras de rádio. Na Assembleia Legislativa de São Paulo não foi diferente, e o assunto vem ocupando boa parte das sessões. Parlamentares de todos os partidos querem entender, encontrar culpados, buscar formas de prevenir para que o fato não se repita.

A tragédia não tem nome, assim como é inominável a dor das famílias e amigos de todas as pessoas envolvidas. No entanto, é necessário ter serenidade para não deixar que o episódio provoque uma onda de violência institucional nas escolas e reforce preconceitos. É assustador como alguns " parlamentares, governantes, jornalistas " estão usando essa tragédia para clamar por vigilância, policiamento, detectores de metal e outros aparatos pertinentes, talvez, a unidades prisionais, mas não a escolas.

Na busca dos culpados, muitos concluíram que professoras deveriam ser responsabilizadas por não prestarem atenção à criança calada. É verdade: na sala de aula, as crianças e os adolescentes que fazem barulho são notados. Mas isto acontece em todos os lugares, inclusive nas famílias e nos espaços públicos. Também a internet foi elencada entre os possíveis culpados; assim como os produtos da indústria cultural que enaltecem a violência, a população que votou não ao desarmamento e as armas de brinquedo.

Na ânsia de explicar o inexplicável, o preconceito, sempre ele, apareceu em boa parte da cobertura, quando a informação sobre a condição de adotado do ex-aluno ganhou destaque. Pareceu muito relevante dizer que a mãe biológica, já falecida, tinha um distúrbio mental. No entanto, ninguém sabe qual. E, mesmo se diagnosticado, nenhum profissional da saúde ousaria explicar a ação do filho pela doença da mãe.

Mas foi preciso especular, porque especular dá audiência. O fato é que os familiares de Wellington passaram a ser citados com a distinção que se tratava de irmão adotivo; mãe adotiva. Ninguém falou contra a adoção, mas a mensagem foi nítida: seres humanos, assim como animais, para ter valor necessitam de atestado de procedência; quando não o têm, correm-se riscos. As heranças genéticas, nunca invocadas quando filhos biológicos são protagonistas de ações cruéis, são auto-explicativas em casos de adoção.

E a lista dos culpados é imensa. A solução proposta para todos os casos é o controle. Controle sobre quem circula nas escolas, e suas bolsas e pertences. Controle sobre a internet, a TV e jogos virtuais. Controle sobre pessoas com sofrimento mental e seus filhos. Controle sobre as crianças prontas para a adoção. Aposta-se que seres humanos sejam incapazes de exercer sua liberdade e que só o controle externo garante a segurança coletiva. Mas ousamos perguntar: falta controle ou falta a disseminação de valores que promovam a vida, estimulando cada pessoa a ser responsável por sua própria existência e a de outras?

Proponho aproveitar este momento da Páscoa para a reflexão. Todos nós podemos estimular a solidariedade, muitas vezes identificada com os princípios cristãos de amor ao próximo. Isto significa fazer valer os direitos individuais e coletivos de todas as pessoas. Significa também valorizar o afeto e o respeito entre as pessoas, estreitando laços de cuidados, seja na família, na comunidade ou na sociedade em geral. (mf)



* Geraldo Cruz é deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores

alesp