Uma eleição diferente - OPINIÃO

Arnaldo Jardim
05/10/2000 18:44

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O resultado das eleições do último domingo é um retrato do grau de consciência e satisfação da sociedade brasileira. Foram eleições marcadas por uma demonstração de maturidade política do povo brasileiro, nas quais o eleitor manifestou sua vontade de acordo com suas conveniências e compreensão da realidade, sem se deixar levar pelo voto de cabresto ou pelo caudilhismo.

Para nossa alegria e entusiasmo, acabou se confirmando aquilo que vínhamos sentindo no decorrer da campanha. A população votou pela ética, optando também por propostas concretas, realizáveis e com claro conteúdo social. Isso coroou um processo eleitoral entusiasmante, que apresentou alguns dados decisivos:

· A nação foi mobilizada num acontecimento sem precedentes na nossa história recente e a informatização contribuiu para solidificar a democracia em nosso País.

· Observamos um uso muito menor do poder econômico do que em outras eleições, embora haja ainda a necessidade de uma legislação mais precisa e rigorosa para limitar a influência do fator financeiro, evitando, por exemplo, aquela propaganda maciça de banners e faixas que emporcalham nossas ruas e praças.

· As pessoas estavam efetivamente preocupadas em ouvir as propostas dos candidatos e participar do momento político. Tanto isso é verdade, que tivemos a oportunidade de ouvir o relato de diversos showmícios, nos quais havia muita gente no período dos discursos dos candidatos e esse número diminuía na medida em que o show musical se iniciava. Nesse sentido, creio que a propaganda gratuita poderia ter contribuído mais, caso seu conceito fosse outro, com o espaço aberto também para a exposição de propostas pela sociedade civil.

· Os programas dos candidatos tiveram que se adequar às exigências do eleitorado e apresentar plataformas de governo, passíveis de posterior cobrança da população.

· Houve uma significativa diminuição das promessas impossíveis. Acabou prevalecendo um discurso mais realista, com metas fiscais e propostas com um certo sentido de realidade, bem no espírito da Lei de Responsabilidade Fiscal, recentemente aprovada, e que é um importante instrumento de controle orçamentário.

· O eleitor mostrou-se mais exigente, cauteloso e desconfiado, o que deu às eleições uma dinâmica que garantiu emoção até o último instante. Consequentemente, as pesquisas de opinião precisaram mudar os seus métodos, ampliar o número de consultas e a margem de erro, para evitar equívocos e aumentar a transparência, dificultando o seu uso indevido. E, mesmo assim, falharam feio em diversas cidades, onde os eleitos não constavam entre os favoritos apontados por elas.

· Tivemos candidatos a vereadores de melhor nível, mais participativos, propositivos e preocupados em mobilizar o eleitorado na discussão de temas pertinentes à comunidade.

Com isso verificamos uma ampla renovação no quadro político, com o crescimento de partidos como o PT e o PPS, que vêm insistindo na falência do atual modelo econômico, na necessidade de distribuição de renda e na diminuição das cruéis desigualdades que campeiam no País. Em relação ao PPS crescemos significativamente, elegendo 31 prefeitos. Mantivemos as prefeituras de São Bernardo do Campo, Sumaré e Bauru, e entre as novas prefeituras conquistadas destacam-se cidades importantes como Araras e Salto.

Assistimos ainda à fragorosa derrota do PSDB, que colhe resultados amargos destas eleições. O PSDB recuou nos centros urbanos, ficando de fora da disputa nas principais capitais do País, excetuando-se locais como Vitória, capital do Espírito Santo, onde o partido deslocou-se do eixo do poder e foi abrigar-se num campo mais oposicionista em aliança com partidos de esquerda, entre os quais, o PPS.

Já o PFL obteve vitórias onde conseguiu regionalizar as eleições, desnacionalizando-a e conferindo caráter mais pragmático, administrativo e local. Isso vale para Florianópolis, Rio de Janeiro, Curitiba e, principalmente, para a Bahia, onde o senador Antônio Carlos Magalhães é um capítulo à parte e se vangloria da sua independência em relação ao Planalto. Amargou também uma derrota na cidade de Recife, onde vai haver segundo turno, contra todas as previsões contrárias, que davam vitória folgada ao pefelista Roberto Magalhães.

Há que se ressaltar ainda que, no campo vencedor, prevaleceu um discurso propositivo, voltado para o combate às desigualdades sociais, mas que contemplava um diálogo amplo com a sociedade, baseado no fortalecimento das instituições democráticas e sem radicalismos. E isso nos alegra muito, por significar, na prática, a vitória da tese do diálogo nacional, que nada mais é do que a construção de uma modelo alternativo de desenvolvimento, a partir de forças democráticas comprometidas com a ética e com a busca de soluções práticas para os complexos problemas da nossa sociedade.

Dessas eleições emergiram, portanto, novas funções e novas responsabilidades para nós, do PPS. Conseguimos encarnar a esperança e, agora, precisamos reiterar o nosso compromisso com a renovação política, tanto nos métodos como na ação. Nessas eleições demos o exemplo, com todos os nossos candidatos, abrindo mão do sigilo fiscal e bancário, numa concreta demonstração de transparência. Está provado que o caminho está correto. Cabe-nos fugir da tentação dos atalhos e persistir na consolidação partidária e numa inserção cada vez maior em nossa sociedade. Fazendo isso estaremos ajudando a construir o Brasil dos nossos sonhos.



ARNALDO JARDIM

Deputado Estadual

Engenheiro Civil, 45

Secretário da Habitação (1993)

Relator Geral do Fórum São Paulo Séc. XXI

Presidente Estadual do PPS

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