Opinião - Resistência portuária


09/03/2009 18:05

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Dia 28 de fevereiro de 1991. Santos para em defesa de 5.372 portuários demitidos sumariamente pelo presidente Fernando Collor de Mello. Capitaneada pela prefeita Telma de Souza, a cidade resiste. As imagens da mobilização pacífica, que levou milhares de pessoas às ruas, correm o Brasil. É o auge de 22 dias da boa luta, que leva Santos e nossa gente a uma vitória histórica: o governo recua e anuncia a reversão das demissões.

Os portuários têm no dia 28 de fevereiro um marco histórico de sua centenária luta por condições dignas de trabalho e melhores salários. Os trabalhadores demitidos, suas famílias, sindicalistas, lideranças políticas, empresários e cidadãos anônimos formaram uma vigorosa corrente de força e solidariedade.

O corte atingia mais da metade do contingente de funcionários da Codesp, prejudicando toda a economia regional. Era uma represália ao movimento portuário, que fazia greve pela reposição de perdas salariais que já batiam na casa dos 158%. Se de um lado o governo Collor endurecia, Santos mais uma vez não se acovardou e cerrou trincheiras contra a arbitrariedade.

O Palácio José Bonifácio, sede do governo municipal, tornou-se uma espécie de quartel-general da resistência santista. Mensagens foram disparadas ao governo federal, pedindo a suspensão das milhares de demissões. No dia 26 de fevereiro, uma grande caravana seguiu para Brasília. Apesar disso, o Palácio do Planalto manteve a intransigência.

O único caminho foi a decretação do estado de calamidade pública. No dia 28, o movimento atingiu seu ápice. O Fórum Sindical da Baixada Santista parou a cidade. Ônibus não circularam. O comércio não abriu suas portas. Milhares de homens, mulheres e crianças formavam um verdadeiro mar de gente nas ruas do Centro de Santos.

O resultado: às 13h30, um telefonema de Brasília comunica o cancelamento das demissões. O governo Collor recuara. Lágrimas, sorrisos e abraços tomaram conta da multidão. Um momento de superação e emoção, cujas lembranças, ainda hoje, 18 anos depois, provocam arrepios e deixam marejados os olhos de quem viveu aquele momento histórico.

Para eternizar a data, foi criado o Dia da Resistência Portuária, comemorado anualmente em 28 de fevereiro. À frente da Secretaria Municipal de Educação, participei da escolha do nome 28 de fevereiro para a escola municipal do bairro do Saboó, um dos redutos portuários. A opção pelo nome foi feita de forma democrática pela comunidade local.

Neste ano, 18º aniversário daquele momento histórico, tive a honra de participar mais uma vez das comemorações promovidas pelo movimento portuário. Uma chama que se mantém acesa, tornando vivas as lições daquela vitória: resistência, solidariedade, coragem, união. Lições que ficam para os desafios do presente.

E eles são muitos: plano de cargos, carreira e salários, realização de concurso público, proteção social dos trabalhadores portuários avulsos, regulamentação nacional da Guarda Portuária, revitalização do Portus, resgate da aposentadoria especial. Grandes lutas para uma categoria acostumada a enfrentar e vencer os grandes desafios.

*Maria Lúcia Prandi é educadora, deputada estadual (PT), 4ª secretária do Legislativo paulista e mestre em Ciências Sociais pela PUC/SP.

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