Diretora da Vigilância Sanitária sugere proibição do tolueno na cola de sapateiro

(com fotos)
03/04/2002 20:34

Compartilhar:


DA REDAÇÃO

A diretora técnica do Centro de Vigilância Sanitária, Marisa Lima Carvalho, compareceu à reunião da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa, presidida pela deputada Rosmary Corrêa (PMDB), na tarde desta quarta-feira, 3/4, para prestar esclarecimentos sobre a comercialização da cola de sapateiro e outros produtos à base de tolueno. Após explicar as dificuldades do Centro em fiscalizar e aplicar sanções, ela sugeriu que no caso do tolueno - produto tóxico que causa dependência - seja utilizado o mesmo caminho adotado para a extinção do uso do amianto - substância comprovadamente cancerígena - ou seja, a proibição, com um prazo para cada diferente utilização. Marisa lembrou que o uso da cola de sapateiro como droga é, acima de tudo, um problema social.

De acordo com Marisa, as dificuldades na fiscalização são várias, como a falta de um sistema informatizado, que só está sendo implantado agora. Outra dificuldade apontada por ela diz respeito às possíveis alterações que poderiam ser feitas no produto, como a inserção de substância repugnante na fórmula. A diretora lembrou que isso já foi feito com sucesso no caso do gás de cozinha - que é inodoro e passou a ter um forte cheiro para que vazamentos pudessem ser facilmente identificados e evitar acidentes - e com o caso do metanol utilizado como combustível, ao qual foi acrescentado um sabor repugnante para que não fosse ingerido.

No caso da cola, no entanto, isso não seria possível porque dificultaria a utilização do produto pelos trabalhadores das indústrias que o utilizam e mesmo pelos sapateiros. A proibição da venda para pessoa física, sugerida pela diretora, foi discutida pelos deputados presentes, que concluíram que a medida prejudicaria os pequenos estabelecimentos, como sapatarias e marcenarias que fazem consertos de móveis.

Esclarecimentos

Marisa Lima Carvalho foi convocada para esta reunião após não ter atendido a convites feitos anteriormente com a mesma finalidade. A diretora disse que acredita não ter desrespeitado a comissão com suas faltas anteriores, já que se ausentou por estar em serviço no momento das reuniões. Segundo Marisa, exatamente nos dias das convocações ela estava cuidando de problemas inadiáveis, como os óbitos de recém-nascidos no hospital de Mogi das Cruzes e o caso do pediatra acusado de abusar sexualmente de seus pacientes - coube à vigilância sanitária encontrar frascos do medicamento Dormonid no lixo do consultório. "Meu trabalho depende desta Casa, não vive sem as leis", afirmou.

Os esclarecimentos foram solicitados pelo deputado Edson Ferrarini (PTB), autor da lei, de 1988, que exige documentação de quem comercializa a cola de sapateiro e também de quem compra o produto, e ainda das emendas que propõem a aplicação de sanções. Segundo o próprio deputado, os fabricantes da cola de sapateiro e seus similares para uso em madeira já fizeram estudos para encontrar um substituto para o tolueno na composição do produto, mas sem sucesso.

Ferrarini disse que vai apresentar projeto de lei acatando a sugestão da diretora do Centro de Vigilância Sanitária, ou seja, proibindo o uso do tolueno na composição da cola, já que a exigência de documentos e do cadastramento dos estabelecimentos que comercializam o produto não está surtindo o efeito desejado. "As crianças continuam comprando e cheirando cola. Ela continua sendo vendida e ninguém é multado", disse o deputado. Ele destacou que os menores compram o que é conhecido como "uma colher de melado": A cola vendida em sacos plásticos é medida com colher.

alesp