Sem sonhos, o que somos?

Opinião
13/06/2008 10:58

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O cenário que se apresenta para os jovens brasileiros é, no mínimo, perturbador. Não fosse apenas a minha percepção, fruto de inúmeras conversas com a juventude da capital e interior de São Paulo, temos ainda as estatísticas que encerram em seus números uma perspectiva triste, preocupante e, em curto prazo, sem indícios de mudança significativa.

Saindo mal preparados da escola pública, com chances mínimas de cursar uma universidade porque a formação básica é deficiente, esses rapazes e moças cheios de sonhos e um tanto de projetos na cabeça se vêem barrados ao tentar ingressar no mercado de trabalho, ou sem garantias que o ajudem a permanecer empregado, quando já venceram a dificuldade inicial.

Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) - Juventude e políticas sociais no Brasil - coloca esta realidade de forma concreta: quase metade (46,6%) da população desempregada no país tem entre 15 e 24 anos. Este dado, ao lado de outros que ampliam a falta de perspectiva de trabalho, como baixa qualificação profissional, ausência de carteira assinada e demissão sem garantias trabalhistas, coloca o Brasil na última posição entre dez países pesquisados.

Entre os sonhos desses jovens, um nasceu da cabeça e da fala do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que fez do Programa Primeiro Emprego um mote de campanha em 2002. Nasceu, oficialmente, em outubro de 2003, pela lei 10.748, mas foi enterrado sem anúncio solene, em agosto do ano passado, quando o governo entregou o Plano Plurianual 2008-2011 e admitiu que houve um erro de avaliação no diagnóstico do programa. Um erro que tira dos nossos jovens o direito inalienável de se preparar para o cotidiano da vida, construindo uma carreira, uma família e participando de uma sociedade onde ele poderia contribuir ativamente.

Sem trabalho, todo o processo de desenvolvimento social do indivíduo fica comprometido, pois ele não pode garantir para si os princípios básicos de cidadania: moradia, alimentação, saúde, educação e lazer. Sem políticas públicas específicas que o incluam, o jovem passa a engrossar outras estatísticas que nos agridem e rebaixam.

É nesta faixa etária (18 a 24 anos) que o Brasil contabiliza 19,2% de dependentes de álcool, contra 12% para o total de todas as idades. Dos casos notificados de doenças sexualmente transmissíveis e Aids, 30% do total de 112 mil casos (1980 a 2005) são entre jovens de 15 a 29 anos, mesma faixa etária que nos traz um dado ainda mais trágico: mais de 28 mil jovens (37,8%) morreram assassinados entre 2003 e 2005, conforme documenta o estudo.

Não há base onde os jovens possam sustentar-se e entendo que eles precisam se mobilizar, reivindicar, abrir espaço na agenda política para serem ouvidos e respeitados. Ao apresentar na Assembléia Legislativa de São Paulo um projeto que cria e fortalece os grêmios estudantis nas escolas públicas e privadas, minha intenção é despertar nos jovens a consciência de que precisam se colocar em evidência nas esferas onde seu presente e seu futuro podem ser pautados.

Sem mobilização e sem organização para que ganhem voz e conquistem ouvidos atentos e responsáveis, nossa juventude corre o risco de ficar à mercê de visionários que acenam com números fabulosos de primeiro emprego e depois os sepultam, alegando um erro de diagnóstico e desconstruindo um sonho legítimo. E sem sonhos, o que somos?

"Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã", responde o escritor francês Victor Hugo.



*Bruno Covas é deputado estadual e presidente nacional da Juventude PSDB

alesp