Caio Santos utiliza o novo realismo para valorizar seus super-heróis

Emanuel von Lauenstein Massarani
16/07/2003 16:23

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Inicialmente conhecido como surrealista, Caio Santos se ocupa, na fase atual, do problema teórico do realismo nas suas várias facetas. O gigantismo da imagem serve para desvalorizar o sentido de conjunto e concentrar a atenção do espectador sobre partes isoladas do quadro, como simples variações de superfície.

Dadas as dimensões, cada parte do quadro deve resultar de uma impostação precisa, cuja técnica pictórica não pode ser senão clara e explícita. Nada pode ser deixado ao acaso. O aumento da imagem, além das proporções normalmente conhecidas, é uma das contribuições do artista ao que chamaremos de novo realismo.

Caio Santos pinta a escravidão do homem contemporâneo pelos super-heróis como Superman, Homem-Aranha e outros tantos superdotados. É a feroz, alucinante e alienante tortura e usura a que o homem de hoje está submetido pela mass media.

Não se trata, todavia, de um saudosismo romântico. Esse artista sente o fascínio pela cidade grande, industrial, selvagem e repleta de poluição visual, sente também a força e a grandeza do mundo moderno. Mas é exatamente a contradição entre as prodigiosas possibilidades desse mundo e o emprego negativo de seus meios que ele pinta. Elegia ou crítica sutil?

A sua polêmica então não é contra os seres superdotados criados pela imaginação dos autores das histórias em quadrinhos. O super-homem é inocente para Caio Santos. Essa é a razão pela qual de suas obras não emana nenhuma elegia pastoral por uma felicidade perdida, nenhuma atitude pobre.

Se em Fernand Leger existia ainda o persistir de um sonho positivista, nele esse sonho não existe. Existe, porém, implícita uma prospectiva de "liberação do super-homem" daquelas potências irracionais que o governam.

A firmeza da enunciação, os gráficos que medem os espaços, as geometrias que delimitam as várias partes da composição não são senão maneiras de colocar em evidência o exercício do poder tecnológico contra o poder do homem. Elas constituem, isso sim, o índice de uma fictícia racionalidade com que vem sendo levada a termo a mais irracional das operações.

Cada figura, cada objeto, cada particularidade de sua obra "Sabor e Ação", doada ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa, é fixada pelo artista com grande precisão.

O artista

Pintor e escultor, Caio Santos nasceu em 1960, em São Paulo. Iniciou suas atividades artísticas em 1974, como autodidata. De 1978 a 1986, estudou com o professor Ernesto Aroztegui técnicas e diferentes linguagens das artes plásticas. Sua primeira exposição individual foi em 1980, na Sociedade Itabunense de Cultura, em Itabuna, Bahia. A partir de 1993 passou a dedicar-se ao ensino da arte, criando cursos de desenho e pintura básica estrutural, bem como de arte contemporânea. Em 1994 criou a Academia das Artes no Tremembé, São Paulo, destinada à formação de novos artistas. Participou de inúmeras exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior, destacando-se, entre elas: Associação Comercial de Ilhéus (1980); Clube do Congresso de Brasília; Senac e Hotel Nacional de Brasília (1981); Galeria de Arte Norma Tibério; Sesc Carmo e Centro Cultural São Paulo (1983); Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (1990); Mostra Nacional de Artes Plásticas de Erechim (2001); "A Arte Antropofágica de Caio Santos", Espaço Cultural Folha de S. Paulo, Riberão Preto (2003). O artista marcou presença no 16º e no 19º Salão de Artes Plásticas do Embu (1979 e 1982) e no Salão Bunkyo da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa (1996 e 1998).

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