O "cão" do transporte está mais para pitbull

Opinião
19/07/2007 15:46

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Quando nos referimos que tivemos um dia de "cão" é porque o dia foi mesmo, muito ruim.

O transporte brasileiro tem tido dias de cão e de completo caos, nestes últimos meses. A ponto de não discernirmos com clareza, quem é o mais afetado da situação. Se o "pobre" que fica horas no ponto de ônibus esperando por um transporte coletivo, que chegará lotado, no final de um dia de trabalho, ou o "rico" que espera horas no saguão do aeroporto, sem poder embarcar, sem ter notícias de seu vôo e obrigado a dormir nas poltronas pela demora, se torna um verdadeiro mendigo de aeroportos.

Os tempos são outros, e embora a tecnologia nos proporcione maravilhas como o avião, o homem não consegue dominá-la. O caos aéreo é mais um dia de cão na vida dos controladores de vôo, que trabalham dobrado, para doutrinar a tal tecnologia, que faz o avião voar.

Antigamente, não havia este problema, porque só o que fosse rico de fato, poderia pagar por uma passagem de avião. Hoje, com a concorrência das empresas aéreas em conseguir mais clientes, os preços estão mais baixos, voar de avião não é mais luxo, virou necessidade. O mesmo acontece aos que necessitam de transporte coletivo, muitas vezes são mais humildes, mas preferem juntar um dinheirinho e comprar seu veículo, do que pagar uma tarifa diária pelo ônibus sempre atrasado e lotado na região metropolitana.

O choque entre um jato Legacy americano e um Boeing da Gol em setembro de 2006, que derrubou o último na selva de Mato Grosso e matou as 154 pessoas a bordo, foi o episódio que chamou definitivamente a atenção da população brasileira para a precariedade do setor de transporte do país. No entanto, o acidente, junto da greve branca dos controladores de vôo que gerou o apagão aéreo original, foram só dois dos estopins de um colapso que já estava anunciado. Enquanto o movimento de passageiros no país cresceu em ritmo acelerado nos últimos três anos - 19% só em 2005 -, o investimento oficial em infra-estrutura de controle aéreo, equipamentos e formação de equipes seguiu o caminho inverso - foi reduzido quase à metade. Estes fatos se auto-repercutem. Mas, foi preciso morrer pessoas para que o cão viesse a ladrar, e se antes ele não mordia, agora morde.

Não são problemas apenas pontuais, a bagunça está generalizada há tempos. A situação do trânsito em São Paulo é mais do que caótica, o número de carros que circulam é extremamente superior do que as ruas comportam, e parecem transbordar em dia de congestionamento, assim como as águas dos rios durante as enchentes, não há por onde escoar. Chegar até o Centro de São Paulo em menos de 1h30 é uma missão praticamente impossível, se estiver chovendo então...Aí o dia de cão está completo.

Muitos dizem que não há crise no setor aéreo, nem no setor rodoviário. Mas se estas provas não são suficientes para denominá-lo, o que mais falta acontecer?

Respondo mais esta pergunta, faltava acontecer...Pois, há dois dias um outro terrível acidente aconteceu. Entre os tripulantes do vôo 3054 da TAM, duas famílias inteiras, avós e netos, autoridades, trabalhadores e turistas perderam a vida. Foram 186 mortes, o acidente mais grave do setor aéreo do país, alguns classificam como o maior da América Latina. Justo agora, que o país passa um momento de glória, sediando os jogos Pan-Americanos e festejando as medalhas dos nossos atletas, somos obrigados a engolir o choro de alegria e chorar o desespero, a tristeza de imagens chocantes. Imagens que nos envergonham diante do mundo inteiro e repercutem nossa falta de competência para averiguar com veracidade o que está acontecendo com nosso transporte aéreo. Ninguém sabe quem são os verdadeiros culpados por tudo isso.

Infelizmente, as conseqüências são irreversíveis, são vidas que não voltam mais, turistas que deixarão de nos visitar, confiança abalada dos brasileiros. Os que sempre andam de avião estão com medo, os que nunca andaram estão apavorados, quando será a próxima queda? Quem nosso pitbull aéreo irá morder?

Orlando Morando é deputado estadual pelo PSDB

alesp