O DESATINO DA RAPAZIADA (II) - OPINIÃO

Milton Flávio*
31/10/2001 15:38

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No início deste ano, escrevi um artigo com o mesmo título acima - tomado de empréstimo do jornalista e escritor Humberto Werneck, cujo livro, sobre jornalistas e escritores em Minas Gerais, foi editado pelo Instituto Moreira Salles e pela editora Companhia das Letras. O livro faz referência às peripécias de gente de talento. O artigo, infinitamente mais modesto, tece críticas ao corporativismo exacerbado de supostos líderes estudantis, que se sentiam no direito de manter o monopólio, felizmente eliminado, na emissão de carteiras para estudantes - uma espécie de passaporte para que possam pagar meia-entrada em salas de cinema, teatros e casas de espetáculos.

Como o desatino de parte da rapaziada persiste, me senti tentado a tomar, mais uma vez, o título do livro emprestado. No último domingo de outubro, desordeiros que se orgulham da condição de universitários, embora talvez não tenham lido mais que meia dúzia de livros, invadiram o campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, valendo-se da violência, tentaram de todas as formas impedir a realização dos exames vestibulares. Rasgaram provas, quebraram janelas, intimidaram os colegas, entraram em confronto com a polícia, pintaram o caneco. Tudo em nome de uma suposta solidariedade aos professores e funcionários das universidades federais, em greve há pouco mais de três meses. Pouco lhes importava a decisão judicial, que garantia à instituição a realização dos exames. Em nenhum momento, lhes ocorreu que o cancelamento dos exames vestibulares nas instituições federais de ensino superior (Ifes) prejudicará cerca de cem mil jovens vestibulandos de todo o país.

A falta de educação desses supostos líderes estudantis é diretamente proporcional à arrogância dos que, sem propostas factíveis e argumentos consistentes, não vão muito além dos chavões. Basta-lhes, por ignaros, repetir o velho bordão, segundo o qual o atual governo está empenhado em promover o sucateamento das universidades públicas, em benefício das instituições privadas etc e tal.

Infelizmente, porém, os atos de incivilidade, cada vez mais freqüentes, já haviam ocorrido dois dias antes, em 26 de outubro, na PUC-SP. Ali, um grupelho de alunos raivosos impediu, com violência e pela quarta vez consecutiva, que um capitão da PM apresentasse à banca examinadora sua tese de mestrado sobre policiamento comunitário. A alegação foi a de que o militar teria autorizado a tropa de choque, no início deste ano, a reprimir uma manifestação realizada na Avenida Paulista contra a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Esse tipo de radicalismo, típico dos idiotas, em nada contribui para a resolução dos problemas. Serve, isto sim, para afastar cada vez mais os estudantes das entidades que dizem representá-los. A propósito: a quem a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) representam?

Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo e da União Parlamentar do Mercosul (UPM)

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