O REI PELÉ, A OMC E O AGRONEGÓCIO - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
31/10/2001 12:58

Compartilhar:


No início de novembro, na cidade de Doha, no Catar, será realizada a 4ª Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), organismo que define as regras que orientam o comércio no mundo. Nesse foro discute-se o que pode e o que não pode ser feito nas políticas de produção e exportação, como forma de evitar prejuízos a terceiros. Em tese, é o instrumento para garantir, nos diversos ramos do comércio, direitos iguais e efetiva livre competição.

Para o Brasil, a grande tese a ser defendida nessa conferência é a eliminação dos subsídios agrícolas e de todo o tipo de protecionismo para nos permitir acesso à "parte que nos cabe nesse latifúndio" chamado mercado internacional. Afinal, é a nossa grande possibilidade de aumentar nossas receitas e conquistar superávites na balança comercial e na abertura de mercados para os nossos produtos agrícolas e agro-industriais, marcados por uma competitividade indiscutível.

É verdade que ainda existe os que torcem o nariz para essa assertiva e insistem que devemos priorizar produtos de alto valor agregado. Nessas horas eu me lembro do rei do futebol, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

O rei nunca se envergonhou de seu talento estar relacionado a futebol e não a áreas mais nobres, como a física, por exemplo. Não teve inveja de Einstein e nem carregou frustrações. Foi Pelé e como Pelé conquistou o mundo pela sua habilidade com as bolas nos pés e instinto goleador. No rastro do gênio da bola, transformou-se num empresário de sucesso inconteste.

O Brasil e os brasileiros, sobretudo parcela considerável dos formadores de opinião, devem seguir esse exemplo para abandonar os preconceitos e se orgulhar da nossa verdadeira vocação econômica. Podemos e até devemos sonhar em um dia sermos líderes na fabricação de computadores e produtos de alto valor agregado, mas para que isso aconteça é preciso, antes de tudo, explorar o que fazemos de melhor. E aí não tem segredo: somos craques na agricultura e na agroindústria.

Produzimos melhor do que ninguém a custos altamente competitivos. É assim com o açúcar, álcool, soja, frango, couro, calçados, suco de laranja e tantos outros produtos da cadeia produtiva agropecuária. O nosso agronegócio (com produtos que quase não contêm matéria-prima importada) há muito vem contribuindo para a nossa balança comercial, sendo responsável por superávites e, na pior das hipóteses, pela amenização dos déficits.

Desta forma, é imperioso que o País jogue todas a suas fichas na quebra do protecionismo dos produtos agrícolas, sobretudo praticado pela União Européia e pelos Estados Unidos para que possamos usufruir da banda boa da globalização. Mais do que isso, é preciso olhar internamente e apoiar efetivamente o setor do agronegócio, que tem se mostrado altamente competitivo, apesar do descaso total do governo FHC. Esse governo olha a agricultura com o queixo erguido e com o nariz empinado, próprio dos que se envergonham das reais vocações e preferem sonhar em ser o que não são e, sendo assim, jamais chegarão a ser coisa alguma.

*ARNALDO JARDIM - Deputado Estadual, Engenheiro Civil, Secretário da Habitação (1993)

Presidente Estadual do PPS

Coordenador da Frente Parlamentar pela Energia Limpa e Renovável

alesp