Opinião - Colonialismo econômico


05/08/2011 10:38

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Nos anos 1960, durante a Guerra Fria, os Estados Unidos colocaram no colo das nações amigas uma série de medidas que, disfarçadas de auxílio, atrelavam esses aliados na luta contra o então "perigo vermelho". Na visão americana, o tal "perigo" estava presente em Cuba, e infiltrado em muitas nações subdesenvolvidas, sob orientação da extinta União Soviética e da China comunista.

A tal ameaça era usada para ganhar aliados e reforçar as raízes da Aliança para o Progresso, programa que pretendia unir as nações e deixá-las imunes a tal perigo.

Dentro da Aliança para o Progresso criou-se o Pacto e Auxílio e Defesa Mútua (PADM), sigla que com o passar do tempo perdeu a letra D e ficou apenas Pacto de Auxílio Mútuo. Foram muitas as ações americanas, em todos os campos, e sempre uma permuta nociva para os seus aliados. Eles "auxiliavam" as nações, despejando os seus produtos, e em troca as nações se enchiam de dívidas. O termo não é novo, e a prática ainda não foi ultrapassada: colonialismo econômico pode ser a tradução mais simples.

Em nome do tal PAM, não foram poucas as vezes em que uma nação comprou algumas aeronaves usadas, até obsoletas, e levou a reboque peças de reposição para uma esquadrilha que jamais teria. E em troca acumulou mais dívidas perante o "aliado mais forte".

Dentro dessa política de domínio, os americanos jamais hesitaram em impor as suas condições, sejam elas na sobretaxa de produtos, ou mesmo na imposição de governantes simpáticos a Tio Sam. No campo político, basta vermos o que foi feito no Panamá, República Dominicana, Chile, Argentina, Brasil... Para nós, são inúmeros os exemplos de sobretaxa: calçados, suco de laranja, aço, minérios.

Falei sobre tudo isso para dedicar apenas algumas palavras à nossa situação econômica atual. A presidente Dilma acaba de divulgar o seu pacote econômico, visando solucionar os problemas de nossa economia, novamente à mercê de erros e ações praticados muito longe de nossas terras. Não vou, aqui, entrar no mérito do que foi divulgado, afinal está aí, nas manchetes. Fica apenas uma pergunta: isso é tudo?

A resposta é fácil: não! Pode ter sido um bom sinal, um princípio, mas não é, nem pode ser tudo. O nosso parque industrial está se deteriorando, metrópoles outrora industrializadas se transformaram em prestadoras de serviço; acentuada redução no poder de compra da massa trabalhadora; capacidade de exportação nula, devido à política cambial; cidades infestadas de produtos chineses, quase sempre de qualidade duvidosa. E o que vemos?

Vemos um governo tomando medidas incipientes, talvez com receio de ferir interesses estrangeiros, quando há muito tempo virou as costas para quem de fato mantém empregos, produz, recolhe impostos e assiste impassível à gastança de quem deveria zelar pelo que arrecada.

As medidas serão eficazes? Só o tempo dirá, mas a certeza é única: o colonialismo econômico continua forte e atuante, e a nossa passividade também; o processo de desindustrialização que está ocorrendo no Brasil, principalmente em nosso São Paulo. (mlf)



*Vitor Sapienza é deputado estadudal (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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