MÁRIO COVAS - MORRE O HOMEM, FICAM A OBRA E O EXEMPLO - OPINIÃO

Willians Rafael*
15/03/2001 14:41

Compartilhar:


São Paulo e o Brasil amanheceram mais pobres em 6 de março. Perdemos o grande democrata Mário Covas. Sua luta pela vida, depois de longa agonia, justifica todas as homenagens que a ele foram prestadas. A última de todas as lutas que ele enfrentou ao longo de uma profícua existência foi marcada por sua profunda preocupação com os destinos de São Paulo e por seu nunca negado e incontestável zelo pelo Estado, por sua gente e pelo propósito que sempre pautou sua história de homem público, o de servir seu semelhante e empregar o poder para distribuir justiça.

Pouca gente terá a oportunidade de inscrever seu nome na história de São Paulo e do Brasil com as dimensões e com a profundidade que o destino concedeu a Mário Covas, sobretudo pelas duas magníficas administrações que realizou à frente do governo paulista, modernizadoras, moralizadoras, visionárias, compatíveis com a grandeza da gente paulista. Mas também pela estatura de brasileiro que ficará para a história, a de um engenheiro da democracia, que nunca arredou pé de sua coerência, não arreglou com a ditadura nem compactuou com qualquer espécie de totalitarismo mesmo quando ameaçado pela cassação, que afinal veio, mas que ele preferiu para não negociar princípios e nem a representação popular que recebeu e que sempre honrou.

Estas já seriam razões de sobejo para o reconhecimento que a nacionalidade lhe deveria, se já não as tivesse prestado largamente, seja reconduzindo-o à cena política apenas no limiar da normalidade democrática, que é onde ele gostava de operar, seja dedicando-lhe a maior votação que um senador da República jamais aspirou ou sendo reconduzido ao governo de São Paulo mesmo depois de uma primeira administração em que praticamente teve que reconstruir o Estado. Desafios enfrentados com um destemor e uma coragem típicos de quem está na terra com uma missão específica, maior que a própria existência terrena e que dela não recua nem mesmo à vista de insidiosos males, como o que acometeu o paulista Mário Covas.

Sou e serei extremamente grato ao estadista Mário Covas pelo convite que me fez para militar em seu PSDB e pelas palavras elogiosas com as quais sempre me distinguiu, pessoalmente e a terceiros. À dona Lila Covas, aos seus filhos Covas Neto e Renata e à toda família pessedebista, reafirmo minha solidariedade e minha convicção de que o conforto nesta hora dorida virá da convicção que carregam de que tiveram o privilégio de conviver com um homem de bem, que não elegeu outro objetivo senão o de servir ao seu semelhante, servir aos paulistas, aos brasileiros e à humanidade.

Esta é a maior das missões que pode ser destinada a um homem e dela Mário Covas deu cabo com a mesma obstinação e competência com que se houve em tudo o que se propôs fazer. Nosso governador foi um exemplo para qualquer ser humano, mas principalmente para qualquer homem público que se pretenda digno desta condição, exemplo que vou tomar como espelho e que me estimula a continuar na vida pública augurando, quiçá, servir à sociedade com o denodo e a persistência que marcaram a trajetória dele. Nós todos já sabemos que ele deu sua parcela de contribuição a São Paulo e ao Brasil com sobras. Ele, por força de sua peculiar personalidade e senso do dever, é que achava que não. Por isso, talvez, agonizou e junto com ele agonizaram não só os homens de bem com os quais ele gostava de conviver, mas a própria democracia, que perde por força da finitude da vida um grande guerreiro, um exemplo a ser seguido, repito, e que eu vou seguir se por mais não fosse, porque era no perfil de gente como Mário Covas que Brecht deve ter se inspirado para identificar os homens bons, os muito bons, os melhores e os imprescindíveis.

* Willians Rafael é deputado estadual pelo PTB, advogado e presidente das ONGs Movimento Habitacional Casa Para Todos e Casa de Solidariedade Neyde Alves da Silva

alesp