CPI aponta irregularidades na privatização dos transportes

Balanço da atividade parlamentar
17/07/2003 18:10

Compartilhar:


Da Redação

Depois de realizar 35 reuniões, produzir 1,5 tonelada de documentos e ouvir dezenas de depoimentos, a CPI dos Transportes da Assembléia Legislativa encerrou seus trabalhos em março apresentando conclusões que apontam para a existência de irregularidades nos processos de privatização do setor.

O relatório final sobre as ferrovias, assinado pelo deputado Carlos Braga (PTB), pediu o imediato cancelamento dos contratos de concessão das empresas Ferroban e Novoeste, enquanto os documentos apresentados pelo relator geral, deputado Rodrigo Garcia (PFL), demonstraram que tanto a CPTM quanto a EMTU e o DER praticamente ignoraram a Lei de Concessões, de 1995, e fundamentaram em uma legislação que não está mais em vigor a passagem das antigas permissões para as atuais concessões.

Segundo o relatório de Carlos Braga, os fatos e os documentos analisados demonstraram que a União é a principal responsável pelos problemas advindos da privatização das rodovias. O parlamentar afirmou que o governo federal também errou ao não fiscalizar e multar as empresas concessionárias que estariam descumprindo sistematicamente numerosas cláusulas dos contratos de concessão, principalmente as relativas aos investimentos na modernização e na recuperação da malha.

Direitos violados

Outro fato destacado pelo relatório sobre a situação das ferrovias é o desrespeito aos direitos trabalhistas dos ferroviários. Segundo informações apuradas pela CPI, as normas de segurança costumam ser violadas pelas empresas e os sindicatos só conseguem reverter as novas práticas adotadas obtendo liminar na Justiça. O documento denuncia, ainda, que a Ferrobam recebeu como vantagem no leilão, realizado em 1998, um deságio superior a R$ 244 milhões por conta das indenizações que deveria pagar e, apesar disso, pressionou os funcionários para que pedissem demissão sem receber os direitos adquiridos.

As conclusões da CPI também afirmam que o Ministério dos Transportes não fiscalizou o cumprimento dos contratos de concessão, nem puniu os desrespeitos às cláusulas contratuais. Segundo o relatório, essa omissão do governo foi confirmada pelo Tribunal de Contas da União, nas decisões 1.021/2000 e 647/2002. O relatório sobre o transporte ferroviário possui 7 volumes e 52 anexos. "Mas o descalabro é tal e as provas são tão abundantes que não encontramos grandes dificuldades para concluir o trabalho", afirmou Carlos Braga.

Sem licitação

No relatório final apresentado pelo deputado Rodrigo Garcia, as distorções apontadas dizem respeito sobretudo à atuação da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), que além de não ter realizado licitação para os serviços já existentes, criou novos serviços sem os devidos processos licitatórios. Outra empresa denunciada é a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que também ignorou a necessidade de licitação para a reforma dos trens cedidos pelo governo da Espanha, orçada em pelo menos US$ 200 milhões.

Para o presidente da CPI, deputado Nabi Abi Chedid (PTB), as conclusões do órgão darão aos governo federal e estadual as condições necessárias para enfrentar o problema. "Nenhuma outra CPI realizada pela Assembléia apresentou resultados tão concretos e sugestões tão objetivas", disse ele.

alesp