DE QUE TAMANHO?

OPINIÃO
15/06/2005 20:00

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Diante das denúncias que envolvem seu governo e seu partido, o presidente resolveu reagir para, como ele próprio admitiu, preservar sua biografia. Faz muito bem. Uma biografia não é algo que se escreva do dia para noite, menos ainda que se possa limpar num final de tarde. Uma vez maculada, a suspeição fica para sempre. Daí a expectativa de que declarações do tipo "cortar na própria carne" ou "não deixar pedra sobre pedra", ambas dadas pelo próprio Lula, sejam, de fato, para valer. Até porque, ao menos em termos eleitorais, ele sempre foi bem maior que o PT. Os resultados das eleições de 2002, mais uma vez, confirmaram isso.

Não me parece que o ministro Olívio Dutra, das Cidades, esteja de todo errado quando diz que o governo "paga um preço pelas más companhias". O que, a bem da verdade, é quase uma confissão de culpa. O problema é que, ao contrário do que sugere o ex-governador gaúcho, as companhias pouco recomendáveis parecem estar dentro do próprio PT.Não há corrupto sem corruptor. Uns e outros são indissociáveis, faces que são da mesma moeda. Ou não são?

Dias atrás, o senador petista Cristovam Buarque (DF) foi direto ao ponto, quando disse que o grande problema do governo está na sua incapacidade de aglutinar apoios. E não aglutina apoios porque não tem projetos concretos para o país. Agora mesmo, em entrevista à Veja, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que foi petista " pecado do qual se penitencia ", diz que "Lula saiu da história para entrar no marketing". Tudo aquilo que se assistia no horário eleitoral gratuito de 2002 " um PT cheio de idéias, com solução para todos os problemas do país " era mentira das grandes. Obra menor do escritório de Duda Mendonça.

Em 2003, o Congresso Nacional aprovou a reforma da Previdência Social e o arremedo de reforma tributária. Para tanto, o governo contou com o apoio da oposição, em especial do PSDB e do PFL. Não fosse a mistura de arrogância combinada com a falta de projetos, o país poderia ter avançado na aprovação de outras reformas. Mas o presidente resolveu sair mundo afora prometendo erradicar a fome e mudar a geografia econômica. Enquanto ele colecionava suvenires, a se julgar por todas as evidências, as "más companhias" tratavam de dar curso às lambanças.

Nunca é demais lembrar comentário feito pelo sociólogo Hélio Jaguaribe, há cerca de vinte anos, num ensaio publicado numa revista semanal. Em tom mais duro, ele escreveu que era ilusão eleger um despreparado. Não basta sair da massa para fazer algo em seu benefício. É preciso bem mais. Lula deve mesmo se preocupar com sua biografia. Do contrário, acaba o governo do tamanho do PT.

*Milton Flávio (PSDB) é professor de Urologia da Unesp, em Botucatu, e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo.

alesp