A vida vale pouco nos canaviais

Opinião
03/05/2007 18:18

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Mais uma vez o 1º de Maio foi comemorado com muita festividade no mundo todo, ressaltando a importância que o trabalho tem para a humanidade.

O Dia Internacional do Trabalho surgiu de proposta aprovada em um congresso socialista em Paris, em 20 de junho de 1889. O motivo foi lembrar as vítimas do massacre de Chicago, trabalhadores que morreram nas manifestações ocorridas a partir da greve geral de 1º de maio, acontecida três anos antes, naquela cidade dos Estados Unidos.

De lá para cá muitas conquistas foram obtidas, inclusive pelos trabalhadores brasileiros, como a jornada de trabalho de oito horas diárias, o 13° salário e as férias remuneradas, hoje consolidadas na nossa CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Se tantos avanços foram conseguidos, muitas das situações vividas no país lembram as condições do trabalho escravo do século 19. O próprio regime escravocrata ainda persiste em certas regiões rurais do país.

Também essas são as condições de trabalho dos canavieiros, como bem lembrou reportagem do jornal Folha de S.Paulo, de 30 de abril passado, que gerou ainda um editorial a respeito.

O texto reporta as condições dos canavieiros cuja produtividade é medida pela quantidade de cana cortada. Cada trabalhador necessita cortar até 12 toneladas diárias, para receber quantia insuficiente para sua subsistência.

A vida útil desses trabalhadores nessas condições, afirma a pesquisadora da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Maria Aparecida de Moraes Silva, está por volta de 12 anos, enquanto a dos escravos, segundo o historiador Jacob Gorender, era de 10 a 12 anos.

A sobrevida desses trabalhadores chega a ser superior a dos canavieiros do século 21, depois de 1850, quando o tráfico de escravos da África foi proibido. A partir de então, a vida útil de trabalho dos escravos passou a ser de 15 a 20 anos.

A degradação das condições de trabalho dos canavieiros vem se acentuando com a intensificação da produção para atender a demanda mundial pelo etanol. Estima-se que esse ano as exportações do produto vão atingir US$ 7 bilhões.

Para além das divisas que o etanol possa trazer ao Brasil, é preciso atentar para algumas questões. A principal delas, sem dúvida, é o sacrifício de vidas. Desde 2004, nove trabalhadores morreram nos canaviais, supostamente por excesso de trabalho.

Devemos tomar cuidado ainda para que o plantio da cana não reduza a área plantada para alimentos, a ponto de comprometer o abastecimento e provocar alta de preços de gêneros alimentícios.

A situação é muito grave e São Paulo por ser um dos principais estados produtores de cana de açúcar e de concentração de usinas de açúcar e álcool, necessita de atenção especial e de maior fiscalização por parte dos órgãos competentes.

*David Zaia, é deputado estadual (PPS) e presidente da Federação dos Bancários de São Paulo e Mato Grosso do Sul

alesp