AINDA AS REBELIÕES NOS PRESÍDIOS - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
11/05/2001 15:42

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Uma rebelião no presídio de Itirapina, no Interior de São Paulo, teve um desfecho parecido com os de tantos outros motins ocorridos em outras unidades do sistema prisional de nosso Estado: na briga entre facções de criminosos, quatro presos foram mortos de modo cruel e houve ameaças aos funcionários.

Desde a grande rebelião simultânea de 18 de fevereiro, que atingiu quase 30 cadeias de todo o Estado, numa ação coordenada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), por meio de telefones celulares, inúmeros outros focos de violência atacaram os presídios.

O governador Geraldo Alckmin revela boas intenções e dispõe-se a enfrentar o problema, tanto que vem ouvindo sugestões de especialistas de várias tendências.

Cheguei a ter alguns contatos com o novo governador, que se revelou um homem lúcido para tentar superar as deficiências ocorridas na segurança pública e no sistema prisional do Estado de São Paulo nos últimos anos. Entreguei para Alckmin uma série de sugestões para que as cadeias voltem a ser cadeias: um dos pontos básicos é restituir aos presídios o sistema de reclusão, pelo qual o preso é tratado como preso, sem privilégios. Demonstrei para o governador Alckmin, por exemplo, que os presídios ficariam muito mais seguros se fossem retiradas das celas todas as tomadas de eletricidade que garantem o acesso dos detentos aos aparelhos de rádio e TV e aos carregadores de celular. É uma solução simples e pertinente. Além de Itirapina, houve motins em outros presídios nas últimas semanas, entre os quais o de Ribeirão Preto, o de Taubaté e o de Pirajuí, assim como no Cadeião de Pinheiros, na Capital, com balanços trágicos.

Prestem atenção a esta notícia que circulou nas últimas semanas. Vocês se lembram daquele canadense que integrou a quadrilha de seqüestradores do empresário Abílio Diniz e acabou sendo liberado para voltar ao seu país após uma greve de fome?

Pois bem: o nome desse canadense é David Spencer. E, como se sabe, inúmeros defensores dos direitos humanos, entre os quais o atual ministro da Justiça, José Gregori, se esforçaram para tentar reduzir a pena de Spencer e dos demais seqüestradores, alegando razões humanitárias pelo fato de aqueles "coitadinhos" terem entrado em greve de fome. Vejam, então, o que o "coitadinho" do seqüestrador do empresário Abílio Diniz andou aprontando enquanto cumpria pena na Penitenciária do Estado, no Carandiru.

David Spencer estava entre os intelectuais que incentivaram o crescimento do PCC, a terrível facção de bandidos que domina os presídios.

Entre os anos de 1993 e 1998, Spencer desenvolveu na prisão um sistema informatizado de comuniocação para uso do PCC. Um preso acabou revelando, nas últimas semanas, toda a trama de Spencer e o modo com que a facção de criminosos foi beneficiada.

O canadense Spencer fez o desenho do projeto de comunicação em 1998, prevendo que seria possível até entrar no sistema de computadores do Judiciário e falsificar alvarás de soltura, além de facilitar a comunicação entre as várias ramificações do PCC.

Agora que David Spencer goza das delícias de Vancouver, nunca é demais repetir que fui totalmente contra a antecipação da liberação daqueles dez seqüestradores que haviam cometido um crime gravíssimo. Por aqui, é importante tratar preso como preso.

*Afanasio Jazadji é radialista e deputado estadual, vice-líder do PFL.

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