Sempre me interessei pela política, embora só tenha me filiado a um partido - o PSDB - em 1993, com 45 anos de idade. Na juventude, participei ativamente do movimento estudantil, o que acabou me valendo diversos sustos e alguns dias atrás das grades. Coisa pequena, comparada ao que muitos companheiros sofreram nos porões da ditadura militar. À distância, como cidadão, acompanhei o trabalho de vários líderes políticos que marcaram minha geração, em especial o desenvolvido pelo governador Mário Covas. Sempre me impressionaram a sua firmeza, a sua coragem, a sua competência, a sua retidão de caráter e a sua coerência.

Eleito deputado estadual em 1994, pude, a partir de então, conviver com ele, participar de diversas reuniões de trabalho, acompanhar de perto sua forma de pensar e de agir. Minha admiração pelo homem público que ele é só aumentou. Uma de suas características que mais me impressiona é a capacidade de dizer "não". Para quem vive do voto, dizer "não" é sempre algo complicado. É mais fácil dizer "sim", prometer, desconversar, deixar no ar. Dizer "não" implica desagradar segmentos importantes de eleitores, correr o risco de ter a carreira interrompida pela falta de votos. Esse, pelo menos, é o sentimento dominante no meio político- e talvez esteja aí uma das principais causas da sua baixa credibilidade. É mais fácil prometer que assumir compromissos.

Dizer "não", no entanto, não é apenas um ato de coragem. É preciso ter competência para fazê-lo. É necessário ter argumentos para mostrar aos interlocutores - ainda que eles nem sempre estejam muito dispostos a ouvir - a inviabilidade de se atender às suas demandas, ao menos naquele momento. Isso dá trabalho, exige paciência e uma convicção inabalável na democracia. O verdadeiro estadista não é aquele que governa com os olhos voltados para os índices de popularidade, mas o que não abre mão de suas convicções, o que não tem medo de fazer o que precisa ser feito.

No governador Mário Covas, igualmente, impressiona a sua garra, a sua determinação para enfrentar e vencer os problemas políticos ou pessoais. Ao tomar posse na Assembléia Legislativa no ano passado, após ter passado por uma complicada cirurgia para a retirada da bexiga, ele nos deu uma verdadeira lição de vida, ao afirmar que, "diante de um problema, só há três caminhos possíveis: admiti-lo, enfrentá-lo e vencê-lo". E não tenho a menor dúvida de que é exatamente isso que ele fará agora.

Com o auxílio de uma equipe médica da maior competência, com sua inabalável vontade de vencer e, claro, com a ajuda de Deus, Mário Covas há de superar mais esse obstáculo. Em breve, ele estará de novo na ativa, dando ordens aos seus auxiliares, cobrando-lhes resultados, analisando com profundidade o quadro político nacional, engendrando novas ações e, claro, devorando com prazer os pastéis de que tanto gosta. Até os pastéis, governador.

Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB, líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina da UNESP, em Botucatu