"O consumidor está desprotegido em relação à adulteração de combustíveis", admitiu a diretora executiva da Fundação de Proteção ao Consumidor (Procon), Maria Inês Fornazaro, ao ser ouvida, na tarde desta quinta-feira, 10/5, pela CPI que investiga irregularidades na distribuição, comercialização e qualidade dos combustíveis no Estado de São Paulo, presidida pelo deputado Edmir Chedid (PFL).Maria Inês apontou dados referentes ao problema dos combustíveis, ressaltando os aspectos da sonegação fiscal, da qualidade e da informação. Segundo ela, as alterações na qualidade dos combustíveis pode envolver direta ou indiretamente toda a cadeia produtiva e o consumidor tem pouca informação quanto à origem e preço do produto. "Os consumidores estão desprotegidos e os órgãos de defesa do consumidor possuem poucas condições de atuar." Normalmente, explica Fornazaro, as pessoas procuram o Procon após ouvirem de mecânicos que seus veículos sofreram avarias derivadas do uso de combustível adulterado. Entretanto, para que possa reclamar seus direitos, impõem-se um problema de natureza legal, na medida em que o consumidor precisa ter elementos para comprovar o nexo causal entre o dano verificado e o combustível utilizado. Na maioria das vezes, o consumidor não pede nota fiscal, abastece em vários postos de gasolina e os laudos fornecidos pelas oficinas não conseguem identificar de maneira clara e objetiva o elemento causador das avarias, uma vez que os danos verificados em veículos pelo uso de combustível adulterado não se apresentam imediatamente, mas sim de forma cumulativa. A diretora do Procon disse que o consumidor também fica desprotegido pelo fato de os postos de gasolina poderem operar sem bandeira e por não exibirem placas atestando a origem dos combustíveis. "Não temos como comprovar a correlação entre o que está na placa e a distribuidora de origem do combustível."Ao dizer que o Procon não tem condições de avaliar a qualidade dos combustíveis, Fornazaro sugeriu que a solução do problema da adulteração depende da ação conjunta entre os órgãos do Estado e do governo federal. "É necessário que as secretarias da Fazenda, da Segurança Pública, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e órgãos de fiscalização e controle como o Instituto de Pesos e Medidas desenvolvam ações conjuntas e interligadas capazes de atestar e assegurar a origem, preço e qualidade dos combustíveis", disse.Maria Inês informou ainda que em encontro realizado no mês passado com unidades do Procon de vários estados a ANP garantiu que está efetuando o cadastro de todos os postos de gasolina do país e que está estabelecendo parceria com universidades para fazer o monitoramento destes, permitindo então o acompanhamento da qualidade e do preço dos combustíveis. "A informação é a única vantagem que o consumidor pode ter, já que está impossibilitado de contar com a ampla proteção dos órgãos de segurança e de defesa do consumidor." Os deputados Vitor Sapienza (PPS), Ary Fossen (PSDB), José Zico Prado (PT), Geraldo Vinholi (PDT), Pedro Yves (PTB), Vaz de Lima (PSDB) e José Rezende (PFL) dirigiram questões à diretora do Procon situando a dificuldade de o consumidor garantir seus direitos, visto que todos os órgãos de Estado já ouvidos pela CPI (Secretarias da Fazenda e da Segurança Pública) alegaram que não dispõem de mecanismos legais para fazer uma fiscalização eficaz. "Fico constrangida ao admitir que o consumidor está de fato desprotegido com relação aos combustíveis e que as perspectivas imediatas não garantem que essa situação possa ser revertida em um curto espaço de tempo. O acompanhamento da qualidade dos combustíveis é competência exclusiva da ANP. O Brasil é imenso e a agência é só uma. Dessa forma, a única solução é desenvolver um trabalho conjunto, preventivo, permanente e interligado."