Estratégias

Opinião
13/02/2006 18:41

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As últimas pesquisas de opinião revelam que Lula da Silva recuperou a popularidade e que será forte candidato nas eleições presidenciais de outubro próximo. As pesquisas mostram, ainda, que ele vem perdendo o apoio das classes média e alta, mas que compensa a evasão de votos desses dois setores com o apoio dos pobres, imensa maioria da população.

A rigor, não há novidade alguma nos resultados apresentados. Por quê? Por diversas razões. A primeira delas é que o presidente faz campanha, dia e noite, noite e dia, sempre às custas do dinheiro público. O homem não pára. E fala sozinho. Sem trégua e juízo. Ele não se envergonha, se for de seu interesse, de cruzar os céus do país para inaugurar uma pinguela. Ele anuncia projetos e obras, que ainda não saíram do papel, como se eles já fossem uma realidade.

Além do quê, pôde divulgar diversas medidas que aliviam a alma sofrida dos mais pobres: ampliação do programa "Bolsa-Família", aumento do salário mínimo, redução do imposto incidente sobre materiais de construção e produtos da cesta básica, ampliação do crédito, congelamento do preço do gás de cozinha, criação do sistema de cotas para negros e pobres nas universidades públicas, redução dos índices de desemprego etc.

Não há problema em adotar medidas que favoreçam as parcelas carentes da sociedade. Ao contrário. A questão é outra: está no fato de que tais iniciativas sejam tomadas às vésperas do pleito, com interesse meramente eleitoral.

Acrescente-se ao que já foi escrito o cansaço provocado pelas CPIs, o desgaste sofrido pelo Congresso Nacional por conta da convocação extra e da ausência de parlamentares na Casa e, por fim, o que se poderia chamar de certa lassidão de setores da sociedade com atos ilícitos. Não é pequeno o contingente de eleitores que está, absoluta e equivocadamente, convicto de que na política todos os gatos são pardos, ou seja, safados. Além disso, sabe-se lá por quais razões, há muita gente que prefere fingir que acredita que Lula da Silva nunca soube de nada sobre os atos criminosos praticados pelos seus.

É certo que o presidente, valendo-se de alguns números positivos da macroeconomia " boa parte deles decorrente da inércia de seu governo ", vai adotar a já explicitada estratégia de compará-los aos do governo anterior. Ocorre que FHC não é candidato a nada. Além disso, é sabido que apenas os muito tolos ou espertos demais levam a sério qualquer comparação numérica, sem considerar a realidade objetiva de cada período. O ex-presidente tucano foi obrigado a enfrentar diversas e graves crises internacionais. Lula da Silva governou sob o chamado céu de brigadeiro. Que não tenha sabido aproveitar " ao contrário, por exemplo, do que fizeram Índia e China " este período de rara prosperidade da economia mundial, é fato que apenas confirma o que já se sabe: incompetência, inexperiência e bravatas custam caro, muito caro.

O desafio das oposições está em imprimir aos debates eleitorais a direção que, de fato, ao país interessa. E isso passa pelas discussões em torno do crescimento econômico, geração de empregos, combate à informalidade e ao crime organizado, entre outras. Passa também pela necessidade de evidenciar que, em 2002, Lula da Silva e o PT mentiram muito, tanto em relação ao que teriam condições de realizar, como em relação ao seu compromisso com a ética. O verdadeiro "jogo" ainda não começou.

*Milton Flávio é professor de Medicina na Unesp, deputado estadual pelo PSDB e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo

miltonflavio@al.sp.gov.br

www.miltonflavio.com.br

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