Opinião - O Brasil e a gripe suína


14/06/2010 20:11

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O Brasil se prepara para a volta do vírus H1N1, popularmente chamado de gripe suína. As primeiras suspeitas de casos de infecção pelo vírus influenza ocorreram por volta do século 5 a.C., levantamento feito na época por Hipócrates, conhecido como o pai da medicina. Ele relatou uma doença respiratória que matou muitas pessoas em semanas, mas logo depois desapareceu.

A primeira epidemia de gripe ocorreu em 1889 e aproximadamente 300 mil pessoas morreram. Mas a pior delas foi a de 1918. Na época, a gripe espanhola acometeu cerca de 50% da população mundial e vitimou mais de 40 milhões de pessoas. Só no Brasil morreram 35.240 pessoas. Recentemente, a gripe asiática e aviária, além é claro da gripe suína, espalharam-se rapidamente por todo o mundo deixando algumas vítimas. Por esse breve relato, dá para se ter uma ideia da relação entre o homem e esse tipo de vírus, mas muita coisa mudou desde os primeiros casos.

Na época das primeiras grandes epidemias, a humanidade ainda não possuía vacinas para combater o vírus e evitar tantas perdas. Hoje, pelo contrário, a medicina possui, além de vacinas, medicamentos de tratamento. Recentemente, para controlar a disseminação do vírus no Brasil, o Ministério da Saúde adquiriu a vacina e determinou que os grupos sociais mais vulneráveis à gripe H1N1 fossem vacinados. Foram eles: trabalhadores de serviços de saúde, população indígena, gestantes, população com morbidade, crianças saudáveis maiores de seis meses e menores de dois anos, adultos saudáveis de 20 a 29 anos e adultos saudáveis de 30 a 39 anos. A questão é que as pessoas de 2 a 19 anos e também as de 40 em diante não serão imunizadas.

O próprio ministério já afirmou diversas vezes que entre os grupos de maior gravidade está o de idosos e crianças. Por isso, neste ano, encaminhei a Moção 18/2010 ao presidente da República, a fim de que determine ao Ministro da Saúde que empreenda esforços na inclusão da população com idade escolar de 3 a 19 anos no calendário de vacinação contra a gripe H1N1, por estar em grupo de alto risco. Não podemos esquecer que o grupo ao qual a moção se refere foi o terceiro mais infectado pela gripe e que no ano passado inúmeras escolas tiveram que antecipar as férias escolares temendo um possível surto entre os estudantes.

No mês passado, o professor Carlos Alberto Macharelli, da Faculdade de medicina da Unesp, disse que há, sim, motivos de preocupação para um estado de alerta maior, mas que mesmo assim não se deve entrar em pânico, como se vê nos meios de comunicação. No mundo, além do Brasil, apenas alguns países como EUA e Canadá optaram por imunizar grupos saudáveis, mas mesmo assim é importante pensar em novas medidas por aqui.

O país precisa investir na pesquisa e fabricação de vacinas e medicamentos, o que não vem ocorrendo. Em São Paulo, por exemplo, a fábrica de vacina contra a gripe comum do Instituto do Butantã, inaugurada há três anos, ainda não produziu nenhuma dose. Em uma matéria publicada recentemente na Folha de S.Paulo, o Instituto afirma que fabricará vacinas em 2011 e que a fábrica está parada porque o Instituto paulista ainda não obteve as certificações da Anvisa e da Sanofi Pasteur. O prédio e os equipamentos custaram R$ 70 milhões ao Ministério da Saúde e ao governo do Estado.

O Brasil precisa se preparar de forma responsável para uma possível volta da gripe suína, e para isso é importante haver uma vacinação mais abrangente, além de medidas como a estocagem de medicamentos e a capacitação de profissionais da saúde. Mesmo sendo menos letal que as outras pandemias que já afligiram a humanidade, é importante desenvolver estratégias de preparação para identificar precocemente e combater de maneira efetiva esse vírus. Hoje, a vacina é uma arma necessária e segura contra uma nova onda pandêmica e nossas crianças também precisam dela.



*Gilmaci Santos é deputado estadual e presidente do PRB no Estado. Também participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento da Assembleia Legislativa

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