Quando o Brasil vai voltar a andar nos trilhos?

Opinião
15/04/2008 16:00

Compartilhar:


Em 1854 foi inaugurada a primeira estrada de ferro do Brasil. Idealizada pelo Barão de Mauá, ia do Rio de Janeiro até Petrópolis, num percurso de 18 quilômetros.

O fato fez o Brasil ingressar no bloco de países que possuíam transporte ferroviário, o maior símbolo de tecnologia da época. Seguindo o ideal de Mauá, outras linhas férreas foram construídas. Grande parte delas saíram do papel graças a investimentos externos. Em alguns anos, os trilhos começaram a unir estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, contribuindo para a expansão econômica e social.

Mas os esforços em investir recursos no desenvolvimento da tecnologia férrea minguaram e no final do século XX o Brasil trocava os trilhos pelas estradas de rodagem. Entre 1928 e 1955, a malha ferroviária cresceu cerca de 20% enquanto a rodoviária aumentou em 400%.

O governo de Juscelino Kubitscheck ficou marcado pela expansão da indústria automobilística no Brasil e pelo início da derrocada das ferrovias. Hoje, o país possui 29,5 mil quilômetros de malha ferroviária, o que representa um terço do total de linhas do Canadá e bem menos do que a Argentina, que tem cerca de 34 mil quilômetros. As ferrovias concentram cerca de 20% do total de cargas transportadas, enquanto as rodovias ficam com quase 70%. Sem falar que e o transporte de passageiros por via intermunicipal é quase inexistente.

A opção dos governantes pelo transporte rodoviário vem trazendo uma série de problemas econômicos, ambientais e sociais. Nada contra esse tipo de transporte, mas seria importante que o desenvolvimento deste setor acontecesse em paralelo com os demais, como o ferroviário e o hidroviário, só para exemplificar. Para atingir uma matriz de transporte equivalente aos países mais desenvolvidos e compatível com a nossa extensão territorial a ferrovia poderia " e teria " condições de transportar pelo menos 50% da carga total movimentada no país.



MENOS IMPACTO AMBIENTAL



Um plano de revitalização das linhas férreas foi lançado em 2003 pelo Governo Federal. A idéia inicial era a de construir pequenos trechos que ligariam as linhas principais aos locais de produção, além de modernizar a malha ferroviária já existente.

Mas desde o lançamento do plano, pouco se avançou neste sentido. Os entraves burocráticos e as questões legais desaceleraram as perspectivas de desenvolvimento do setor.

A nossa cultura ainda privilegia as estradas rodoviárias em detrimento das ferrovias.

Técnicos da ONG Preserva Amazônia concluíram que a construção de uma ferrovia causa menos impacto à natureza, pois dificulta a ocupação desordenada das áreas ao redor e evita o desmatamento em grande escala.

Um exemplo disso é o da estrada de ferro que faz o percurso entre Curitiba e o porto de Paranaguá, no Paraná. Construída em 1860, a ferrovia transporta passageiros e carga com baixo impacto ambiental.

Transporte de passageiros

Entre alguns dos projetos atuais voltados ao transporte de passageiros, destaca-se a linha do Trem de Alta Velocidade (TAV), que deverá ligar as cidades de São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro.

A previsão é de que os estudos de implantação estejam prontos no final de abril e que a obra seja executada em cinco anos.

De acordo com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, o leilão de licença de construção do trem-bala deve ocorrer no primeiro semestre de 2009. A expectativa do governo é de que a maior parte do investimento venha da iniciativa privada.

O governo do Estado de São Paulo também estará colocando no mercado a PPP (parceria público-privada) do Expresso Guarulhos/Cumbica.



Indústria ferroviária



A construção de novas ferrovias " e a recuperação das existentes " vai contribuir para o ressurgimento da indústria de equipamentos ferroviários (fábricas de trilhos e locomotivas).

Um exemplo que ilustra essa afirmação é o caso da Companhia Vale, responsável por quase 17% do transporte de cargas por trem em todo o país.

Nos últimos 5 anos, a empresa adquiriu 16 mil vagões, sendo que 92% destes foram fabricados no Brasil.

Cabe ao governo investir e incentivar a iniciativa privada a investir cada vez mais no setor ferroviário, pois além de desafogar as estradas, vai aquecer a indústria nacional, gerar novos empregos e ajudar na preservação do meio ambiente.



*Edson Giriboni é deputado estadual pelo PV

alesp