O APAGÃO DO SENHOR ALCKMIN - OPINIÃO

Nivaldo Santana*
10/05/2001 16:35

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Lamparinas, velas, lampiões de gás e outros utensílios só encontráveis em museus de antiguidades voltarão a fazer parte do cotidiano dos brasileiros. A partir de primeiro de junho, as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste sofrerão cortes de até 20% no fornecimento de energia elétrica. A previsão é de que o martírio perdure até dezembro, numa prova definitiva do fracasso da privatização que os tucanos impuseram ao país e a São Paulo.

Além dos transtornos para o cidadão comum, o racionamento será um verdadeiro terremoto para a economia do país. Estudos da Fundação Getúlio Vargas dão conta de que o racionamento provocará diminuição de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB), com um prejuízo de R$ 15 bilhões e, de quebra, 850 mil empregos a menos. A indústria encolherá e a produtividade diminuirá em 6,3%, agravando todos os indicadores de produção, emprego, faturamento e exportação.

A causa desse desastre não é, como mentem os tucanos, as variações hidrológicas ou o mau humor de São Pedro. Especialistas do setor são unânimes em afirmar que a falta de planejamento, de investimentos e a privatização desastrosa são as causas do caos no setor.

Os responsáveis pelo racionamento têm nome e endereço: em São Paulo, é o governador Geraldo Alckmin, coordenador do Programa Estadual de Desestatização (PED) e principal comandante do desmonte do patrimônio energético paulista.

Hoje, todos vêem o fiasco da modernidade tucana: seguindo servilmente às ordens do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, o governo propagou a falsa idéia de que as privatizações seriam a panacéia dos tempos modernos. O resultado é o oposto do proclamado: as tarifas subiram bem acima da inflação, os investimentos foram congelados e o colapso foi apenas questão de tempo.

Enquanto o consumo crescia 4,1% ao ano na década de 90, o aumento de geração chegava apenas a 3,3%, provocando um déficit de 10% no período. Para cobrir esse buraco, as empresas usaram águas reservadas para o período de estiagem, causa básica da situação de escassez atual. Além de não investirem, empresas como a norte-americana AES chantageiam pedindo novos reajustes tarifários.

Para complicar ainda mais o quadro, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que já entregou para grupos privados a Eletropaulo, CPFL, Comgás e parte da CESP, mesmo com o anúncio do racionamento, mantém o mesmo caminho suicida e afirma que não abre mão de privatizar a Cesp-Paraná em 16 de maio próximo.

O ditado popular diz que errar é humano, insistir no erro é burrice. Mais que burrice, no caso é a esperteza que fala mais alto. Como bem lembrou o economista Francisco Oliveira, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, durante o reinado dos tucanos 30% do PIB brasileiro mudou de mãos, na maior transferência de renda da história do país. Boa parte passou para mãos estrangeiras e uma fatia do bolo ficou para sócios menores brasileiros vinculados aos tucanos.

Por essas e outras, enquanto o Brasil vê surgir, do dia para a noite, uma nova classe de milionários, a maioria da população é obrigada a socorrer-se de velas, lamparinas e lampiões de gás. E tudo isso em pleno século XXI!

*Nivaldo Santana, deputado estadual pelo PCdoB, é presidente da Comissão de Relações do Trabalho da Assembléia Legislativa.

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