Está na moda, entre determinados políticos, uma demagogia que só pode serprejudicial ao País: a tentativa de estabelecer cotas para negros emempregos públicos e em universidades. Esse sistema já está sendo aplicadoem alguns ministérios de Brasília desde o fim do ano passado, com apoioaté do presidente Fernando Henrique Cardoso. Agora, o assunto volta aalcançar destaque na mídia pelo fato de a Comissão de Constituição eJustiça do Senado ter aprovado por unanimidade um projeto de lei queestabelece a criação de uma cota de 20% para pessoas negros e mulatas emconcursos públicos, em universidades públicas e privadas em contratos decrédito educativo. Uma vez que não haveria barreiras à aprovação dessaidéia pelo plenário do Senado, o projeto segue para a Câmara dosDeputados com grande chance de receber o sinal verde.Vamos refletir sobre essa questão. Em primeiro lugar, épreciso levar em conta que o Brasil é um verdadeiro caldeirão de raças,tendo em sua população brancos, negros, mulatos, índios, cafusos,amarelos, todos lutando por oportunidades. Também não se pode negar que,após o fim da escravidão, em 1888, negros recém-libertados ficaram semreceber oportunidade de estudar e evoluir como as famílias dos brancos.Essa situação foi herdada por seus descendentes, em várias gerações. Masestabelecer cotas é uma saída errônea.Garantir 20% de vagas a negros e pardos em concursos para oserviço público e em universidades significa estabelecer o preconceito oua discriminação racial. É preciso lutar mesmo por melhores condições paranegros e mulatos, mas também para brasileiros de outras raças queencontram-se igualmente em situação financeira complicada.O Brasil deve ter orgulho de seus negros, assim como os negrosdevem ter orgulho de seu país e de suas relativas conquistas. Hoje, vemospessoas negras ou mestiças fazendo sucesso não apenas como jogadores defutebol ou como cantores de pagode. Em São Paulo, já tivemos um prefeitonegro, o Rio de Janeiro tem agora uma governadora negra, há médicos,advogados, engenheiros, jornalistas, cientistas negros. O número denegros em destaque nessas profissões não é, de fato, proporcional aonúmero de negros que moram no Brasil. Ou seja: a participação negra noPIB nacional está bem abaixo da porcentagem de negros no total dehabitantes que o último censo levantou. A situação, entretanto, já foipior e existe uma tendência de o negro ampliar seu espaço naturalmente,sem necessidade de criação de cotas de 20% ou 30% ou 40%. Além de tudo,temos de acabar com a teoria furada de que, no Brasil, só vão para acadeia os integrantes de três grupos que começam com a letra "p": pobre,prostituta e preto. De acordo com um levantamento, 67% das pessoas quecumprem pena nos presídios brasileiros são brancas.Já que alguns políticos querem estabelecer cotas, por quenão criar cotas para deficientes? É chocante o fato de uma pessoa, porestar numa cadeira de rodas, não ter a oportunidade de trabalhar noserviço público ou em empresa privada, onde poderia exercer inúmerasfunções. Mesmo os deficientes visuais podem compensar sua cegueira comvárias qualidades que deveriam ser aproveitadas e estimuladas pelasociedade. No entanto, ainda prevalece a demagogia: políticos saem embusca de voto e provocam incríveis distorções. Em vez de se buscarsolução para o problema, busca-se uma simples jogada de efeito.