COTA PARA NEGROS: DEMAGOGIA E DISTORÇÃO - OPINIÃO

Afanasio Jazadi*
26/04/2002 14:20

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Está na moda, entre determinados políticos, uma demagogia que só pode ser

prejudicial ao País: a tentativa de estabelecer cotas para negros em

empregos públicos e em universidades. Esse sistema já está sendo aplicado

em alguns ministérios de Brasília desde o fim do ano passado, com apoio

até do presidente Fernando Henrique Cardoso. Agora, o assunto volta a

alcançar destaque na mídia pelo fato de a Comissão de Constituição e

Justiça do Senado ter aprovado por unanimidade um projeto de lei que

estabelece a criação de uma cota de 20% para pessoas negros e mulatas em

concursos públicos, em universidades públicas e privadas em contratos de

crédito educativo. Uma vez que não haveria barreiras à aprovação dessa

idéia pelo plenário do Senado, o projeto segue para a Câmara dos

Deputados com grande chance de receber o sinal verde.

Vamos refletir sobre essa questão. Em primeiro lugar, é

preciso levar em conta que o Brasil é um verdadeiro caldeirão de raças,

tendo em sua população brancos, negros, mulatos, índios, cafusos,

amarelos, todos lutando por oportunidades. Também não se pode negar que,

após o fim da escravidão, em 1888, negros recém-libertados ficaram sem

receber oportunidade de estudar e evoluir como as famílias dos brancos.

Essa situação foi herdada por seus descendentes, em várias gerações. Mas

estabelecer cotas é uma saída errônea.

Garantir 20% de vagas a negros e pardos em concursos para o

serviço público e em universidades significa estabelecer o preconceito ou

a discriminação racial. É preciso lutar mesmo por melhores condições para

negros e mulatos, mas também para brasileiros de outras raças que

encontram-se igualmente em situação financeira complicada.

O Brasil deve ter orgulho de seus negros, assim como os negros

devem ter orgulho de seu país e de suas relativas conquistas. Hoje, vemos

pessoas negras ou mestiças fazendo sucesso não apenas como jogadores de

futebol ou como cantores de pagode. Em São Paulo, já tivemos um prefeito

negro, o Rio de Janeiro tem agora uma governadora negra, há médicos,

advogados, engenheiros, jornalistas, cientistas negros. O número de

negros em destaque nessas profissões não é, de fato, proporcional ao

número de negros que moram no Brasil. Ou seja: a participação negra no

PIB nacional está bem abaixo da porcentagem de negros no total de

habitantes que o último censo levantou. A situação, entretanto, já foi

pior e existe uma tendência de o negro ampliar seu espaço naturalmente,

sem necessidade de criação de cotas de 20% ou 30% ou 40%. Além de tudo,

temos de acabar com a teoria furada de que, no Brasil, só vão para a

cadeia os integrantes de três grupos que começam com a letra "p": pobre,

prostituta e preto. De acordo com um levantamento, 67% das pessoas que

cumprem pena nos presídios brasileiros são brancas.

Já que alguns políticos querem estabelecer cotas, por que

não criar cotas para deficientes? É chocante o fato de uma pessoa, por

estar numa cadeira de rodas, não ter a oportunidade de trabalhar no

serviço público ou em empresa privada, onde poderia exercer inúmeras

funções. Mesmo os deficientes visuais podem compensar sua cegueira com

várias qualidades que deveriam ser aproveitadas e estimuladas pela

sociedade. No entanto, ainda prevalece a demagogia: políticos saem em

busca de voto e provocam incríveis distorções. Em vez de se buscar

solução para o problema, busca-se uma simples jogada de efeito.

alesp