Opinião - O Brasil que ficou mais pobre


08/04/2011 18:15

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Correria, gritos e desespero. A cena que se repetiu nos últimos dias nos noticiários brasileiros mais parecia um daqueles tiroteios nos morros cariocas, só que era em uma escola de Realengo, no Rio de Janeiro. Um homem de 24 anos matou 12 crianças entre com idades entre 12 e 14 anos e feriu outras 11 que nada tinham a ver com suas decepções ou problemas. O dia ficou mais triste para todos por conta desse ato sem explicação.

Não utilizo este espaço para propor soluções ou criticar o governo. Aprisionar nossas crianças em escolas absurdamente seguras não evitaria a repetição desse problema. Também não é do governo a culpa, na verdade, quem imaginaria que esse massacre poderia ocorrer em uma escola brasileira? Tudo é tão incomum que ainda não é possível pensar em soluções neste momento, devemos apenas refletir sobre os rumos que o Brasil tem tomado e, acima de tudo, avaliar qual o caminho que a própria humanidade tem tomado.

A presidenta Dilma Rousseff, que estava em Brasília em um evento de comemoração de empreendedores, foi informada da tragédia. E sua reação foi como a de todos nós: incredulidade e profunda tristeza. Nas palavras da presidenta: "Hoje deveria ser um dia de muita festa (...) seria também um dia em que nós teríamos orgulho do país avançar no sentido da formalização das atividades (...) eu não vou fazer um discurso porque hoje nós temos que lamentar o que aconteceu em Realengo com crianças indefesas".

Ela também lembrou de que não era característica do país a ocorrência desse tipo de crime e, antes do previsto, encerrou o pronunciamento homenageando as "crianças inocentes que perderam a vida e o futuro" e propôs um minuto de silêncio aos "brasileirinhos". Foi extremamente doloroso e surreal ver as cenas que se repetiram por horas. Nem mesmo a imprensa parecia satisfeita, procurando especialistas que pudessem explicar o porquê de tudo aquilo. O histórico desse tipo de violência nunca antes incluiu países como o Brasil.

É importante refletir sobre a onda de matadores em escolas no mundo todo. Em 2010, a professora americana Amy Bishop abriu fogo em uma universidade do Alabama, após saber que não receberia titularidade na instituição; em 2009, Tim Kretschmer, de 17 anos, matou 16 pessoas numa escola secundária em Winnenden, na Alemanha; em 2007 Seung-hui Cho, estudante sul-coreano de 23 anos, disparou contra estudantes e funcionários da universidade Virgínia Tech, nos EUA, matando 32 pessoas; em 2001, um homem de 37 anos invadiu uma escola em Osaka, no Japão, e apunhalou oito crianças com idades entre seis e os oito anos.

O massacre na escola municipal Tasso da Silveira tornou-se destaque nos principais jornais estrangeiros, que em sua maioria destacam o ineditismo deste tipo de acontecimento no Brasil. O jornal The New York Times publicou que, logo após a matança, os cariocas buscavam entender a tragédia. Já o diário Christian Science Monitor, de Boston, descreveu uma nação em choque diante do seu primeiro massacre escolar. Na Espanha, o El País afirmou que os brasileiros só tinham notícia de matanças perpetradas em escolas através das reportagens do exterior.

Como disse Dilma, estamos unidos no repúdio ao ato de violência. Realmente não esperávamos por tamanha tragédia. Mas mais do que nunca devemos refletir sobre a nossa sociedade e qual o papel de cada um dentro dela. O Brasil cresce em direção às grandes potências, mas será que estamos preparados para situações comuns nesses países se repetirem por aqui?

O momento é de luto.



*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido.

alesp