CHEGA DE HIPOCRISIA - OPINIÃO

Arnaldo Jardim*
21/12/2001 19:15

Compartilhar:


Em janeiro de 2002 será aberta uma nova rodada de negociações agrícolas no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Na pauta, a abertura dos mercados agrícolas, o fim dos subsídios às exportações e a revisão nas políticas de apoio à produção interna dos Países.

Trata-se de uma boa notícia e uma possibilidade objetiva para a expansão da nossa economia, uma vez que o agronegócio ainda não foi globalizado, o que é péssimo para economias como a brasileira, cuja vocação agro-industrial é inquestionável.

No entanto, notícias recentes vindas dos Estados Unidos colocam um pouco de água fria no nosso entusiasmo: a chamada Farm Bill (lei agrícola) que está em processo de votação no Congresso Americano, aumenta barbaramente os subsídios agrícolas naquele país; o fast track (mandato dado ao governo americano para as negociações agrícolas) traz uma série de condicionantes que inviabilizam o avanço das negociações sobre produtos fundamentais do agronegócio brasileiro como o suco de laranja e o açúcar.

É a velha história de dar uma no cravo e outra na ferradura. Na reunião de Doha os norte-americanos permitiram a abertura das negociações agrícolas mas, em contrapartida, sinalizam uma pouca disposição de tornar livre o mercado dos produtos agroindustriais.

É lamentável que isso ocorra, pois sem um verdadeiro mercado livre para os produtos agrícolas não existe a menor possibilidade de se romper as enormes desigualdades econômicas no cenário internacional. E nós sabemos que as desigualdades são o terreno fértil para a proliferação de conflitos e para a vigência de um clima de constante instabilidade.

É preciso atacar firmemente a postura hipócrita dos norte-americanos e dos europeus que defendem mercado livre na seara alheia e ao mesmo tempo cerram verdadeiras "cortinas de ferro" sobre o comércio agrícola.

Mais do que nunca o governo brasileiro precisa ser firme, sobretudo na negociação da Área de Livre Comércio das Américas e não admitir que os produtos agrícolas brasileiros fiquem fora do processo de integração dos mercados. Não podemos cometer os mesmos erros cometidos no Mercosul, ao qual até hoje o açúcar não foi integrado, e precisamos estar dispostos a ações efetivas de proteção de nosso sistema produtivo, até para podermos aumentar nosso poder de fogo nestas negociações.

Chega de discursos calorosos e passividade na ação. É a hora e a vez de aproveitarmos as benesses da globalização econômica, já que o ônus nós já carregamos há muito tempo.

* Arnaldo Jardim é deputado estadual, engenheiro civil e presidente estadual do PPS. Foi secretário da Habitação (1993) e Relator Geral do Fórum São Paulo Século XXI.

alesp