Opinião - Os desafios ecológicos


10/06/2010 17:38

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Nos últimos dias, a capital carioca sediou a 10ª edição do Michelin Challenge Bibendum, congresso mundial que reúne as mais recentes tecnologias verdes voltadas ao setor automobilístico. Um dos expositores levou o seu protótipo 100% elétrico. A busca por tecnologias mais limpas me parece ser hoje uma tendência mundial.

É extremamente importante a busca por tecnologias que agridam menos o meio ambiente, pois disso depende o nosso bem-estar e até mesmo o futuro da humanidade neste planeta. Mas até que ponto nosso país está preparado para receber esse tipo de tecnologia? Não faz muito tempo que vivenciamos um apagão que atingiu ao menos dez estados brasileiros, além do Paraguai. Receio que seja muito difícil que um país que enfrentou problemas dessa magnitude tenha demanda de energia suficiente para alimentar esse tipo de automóvel. Precisamos ainda de muitas melhorias no sistema de energia atual.

A PwC avaliou o impacto dos carros elétricos na rede elétrica de um país. Na Áustria, se esse tipo de carro representasse 20% da frota, haveria um aumento de 3% no consumo de energia elétrica. Mas temos que lembrar que o Brasil tem uma população muito superior à da Áustria. Segundo a mesma pesquisa, o Brasil só conseguiria alimentar sua frota de carros se concretizasse os projetos de geração elétrica que propôs, além disso, essa energia deveria ser proveniente de fontes renováveis. Hoje, se o Brasil quisesse explorar seu potencial eólico, por exemplo, teria que aumentar muito seu investimento nesse setor. O aumento da demanda de energia devido aos carros elétricos é dez vezes maior que a capacidade de geração eólica do país.

Hoje, o Brasil utiliza mais de 80% de sua matriz em usinas hidrelétricas; muitos dizem que essas usinas produzem "energia limpa", o que é uma meia verdade do ponto de vista ambiental, já que para construí-las são inundadas áreas de mata, mudam-se ciclos hidrológicos dos rios e perdem-se lindas paisagens. E os ônibus movidos a hidrogênio? Bom, além de serem mais caros, nem sempre o processo de obtenção do hidrogênio " que não existe isolado na natureza " é isento de liberar dióxido de carbono na atmosfera. Com a energia eólica não é muito diferente, as pás desses moinhos são compostas, na maioria das vezes, de alumínio. Só para lembrar: o alumínio é extraído da bauxita e a sua extração é extremamente danosa ao meio ambiente.

Outros defendem a tese de que apenas a energia nuclear traria impactos ambientais mínimos. Hoje, além dos EUA, inúmeros países possuem usinas nucleares, no Brasil temos as usinas de Angra. A energia nuclear é a terceira maior fonte de energia, atrás apenas do carvão e do gás natural. Mas são muitos os perigos da radioatividade, lembremos que o acidente de Chernobyl, em 1986, na ex-URSS deixou sequelas desastrosas por várias gerações. Mesmo que tenha sido fruto do despreparo, o risco é assustador.

Se partirmos destas explicações, nenhuma fonte conhecida de energia pode ser chamada de 100% limpa, porque quase todas, e me arrisco a dizer, todas, de alguma maneira agridem o meio ambiente. Mas a exploração intensiva de recursos energéticos limitados nos levou a buscar formas de energia que não se esgotam, pois um poço de petróleo é resultado de milhões de anos de decomposição orgânica. A verdade é que nós exploramos o planeta muito além de sua capacidade de regeneração por causa da cega busca por aquilo que possui um simples valor econômico. Precisamos pensar no adiante, e isso está muito além da zona de conforto da maioria. Essa ideia pode parecer uma utopia, algo inatingível, mas é a partir desta tensão entre o utópico e o real que nasce outra força que pode mudar comportamentos, e nós precisamos rever os nossos.

Atualmente, um de nossos desafios é preservar ar e água limpos para os nossos mais de seis bilhões de habitantes e também para os que ainda virão. Para isso, cabe a cada um de nós minimizarmos este impacto negativo, preservando, reciclando e economizando água e luz. O nosso mundo é hoje o resultado de decisões e ações tomadas no passado, e nós, qual legado queremos deixar aos que virão?



*Gilmaci Santos é deputado estadual e presidente do PRB - SP. Também participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

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