POLYANNAS ÀS AVESSAS - OPINIÃO

Milton Flávio*
13/06/2001 16:00

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Não se pretende induzir o leitor a erro, nem tampouco fazer o papel de Polyanna - o daquela jovem que só via o lado bom das coisas, mesmo quando as coisas não tinham, ao menos aparentemente, nenhum lado bom. O que se pretende demonstrar é que a vida, ao contrário do que sugerem ingênuos e oportunistas, não é branca nem preta: é cinza. E o cinza, como se sabe, comporta inúmeras tonalidades. Ignorar isso equivale a guardar no armário a capacidade de reflexão e de julgamento maduro. É reduzir o debate ao certo e o errado, encarar o jogo político como se ele fora um conflito entre mocinhos e bandidos.

Não se pretende minimizar a gravidade da atual crise econômica, nem isentar o governo federal de quaisquer responsabilidades pela falta de energia, que vai retardar novos investimentos, impedir um maior crescimento do PIB e a expansão dos níveis de emprego. Não se pretende também negar que há nichos de corrupção na administração pública, nem que é necessário fazer muito mais do que já foi feito - e não foi feito pouco, como se verá a seguir - para inibir a ação de corruptores e corruptos. O que se deseja é apenas recolocar as discussões num patamar de seriedade, onde os xingamentos e as acusações levianas sejam substituídos pela argumentação lógica e pelos fatos concretos.

A oposição ao governo federal, PT à frente, tenta de todas as formas minar os dois pilares que dão sustentação ao ideário do PSDB - o da ética e o da competência administrativa.

Comecemos pela questão da ética. Não basta ao governante ser probo, contrário a toda e qualquer forma de desvio do dinheiro público. É preciso que ele vá além, se o combate à corrupção for de fato prioridade de governo e não apenas retórica de palanque. É necessário que crie mecanismos que impeçam - ou que, ao menos, dificultem - a ação dos malandros. O que exige competência para formulá-los e disposição férrea para implantá-los.

Nesse campo, ninguém fez mais que o atual governo - responsável pelo fim da maior fonte de corrupção do país: a inflação alta, que permitia toda a sorte de safadezas nas licitações públicas. Também por iniciativa do atual governo, foi criada a Lei de Responsabilidade Fiscal, que impede governantes inescrupulosos de tratar o dinheiro público como ele brotasse fácil da bolsa de dona Maria, como gostava de sugerir um ex-governador, cujo sobrenome virou verbo. Que governo pôs fim à verdadeira farra que era a concessão de emissoras de rádio e tevê? Um governo que age nessa direção, francamente, pode ser acusado de tudo - menos de patrocinar ou de ser conivente com a corrupção.

Quanto à competência administrativa, em que pesem as críticas que podem ser feitas à condução da política econômica, não há como ignorar que, nos últimos seis anos, o país avançou em muitas áreas. Pegue-se, por exemplo, o setor de turismo. Até o final do próximo ano, estarão sendo concluídos em todo o Brasil um sem-número de resorts, hotéis e pousadas que vão gerar dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos, além de trazer divisas para o país. Só na capital de São Paulo, serão criados cerca de 100 mil novos empregos no setor até o final de 2002. Tais investimentos, feitos por grupos nacionais e internacionais, só se tornaram possíveis graças à estabilidade da moeda, à credibilidade do governo e aos investimentos públicos em infra-estrutura.

Dizer que o país piorou nos últimos anos, quer do ponto de vista ético, quer do ponto de vista administrativo, vai além da desinformação, beira a má-fé. E a má-fé, sabe-se, é o último refúgio dos que, na falta de propostas, reviram a lama de que se alimentam. Polyannas que são, às avessas.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo.







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