Presidente do IBGE alerta para crescimento desigual do país

(com foto)
12/06/2001 18:50

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Em palestra realizada nesta terça-feira, 12/6, na Assembléia Legislativa de São Paulo, o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Sérgio Besserman, afirmou que a desigualdade social deverá aparecer nos resultados do censo 2000 como o traço distintivo da sociedade brasileira. "A despeito da melhoria de quase todos os indicadores sociais, os dados colhidos confirmam o Brasil como o campeão mundial da desigualdade, ao lado da África do Sul ", declarou Besserman. "Isso ficará patente com a divulgação dos dados sócio-econômicos do censo, prevista para outubro."

Segundo ele, isso não significa que o Brasil é pobre, uma vez que a nossa renda per capita está entre as 20 maiores do mundo, mas atesta o crescimento desigual promovido no país nas últimas décadas. De acordo com os dados computados pelo IBGE, metade da riqueza do Brasil está nas mãos dos 10% mais ricos (cidadãos com renda superior a R$ 1.300,00) e 1% da população se apropria de uma parcela da renda equivalente à que cabe aos 50% mais pobres.

Na análise apresentada por Besserman, esse quadro ficou ainda mais evidente a partir do crescimento da informatização, da consolidação da democracia e da estabilização da moeda. "Durante anos, a urbanização caótica e a inflação criaram uma espécie de catarata que nublava a nossa visão da realidade social do país", declarou Besserman. "Com esses novos elementos, ficará evidente que não se pode deixar de encarar a desigualdade como um valor em si."

Outro indicador social a não apresentar nenhuma melhora foi o da violência, que causa 68% das mortes de jovens entre 15 e 19 anos. "Isso deve ser objeto da reflexão dos nossos agentes políticos. Afinal, 100% das nossas crianças convivem diariamente com a violência", alertou Besserman.

Entre os resultados positivos do censo encontra-se o decréscimo da mortalidade infantil, que caiu de 44,33% para 34,6% de 1992 a 1999, e do índice de analfabetismo, que foi de 17,2% para 13,3% no mesmo período. A média de anos de estudo da população acima dos sete anos de idade passou de 5,3 para 6,3, enquanto o analfabetismo funcional (população com menos de quatro anos de escolaridade) diminuiu de 36,9% para 29,4%. "Sem dúvida, houve um progresso notável, mas ainda há muito por fazer", disse o presidente do IBGE. "Embora tenha melhorado, nossos indicadores relativos ao analfabetismo são semelhantes aos da Bolívia e representam o dobro dos existentes em países como Panamá e Colômbia."

O censo deverá desfazer a visão do Brasil como um país de jovens. A taxa de fecundidade caiu de 2,7 para 2,5 filhos por casal. É mais alta nas regiões Norte e Nordeste, mas já se aproxima da taxa de reposição na região Sul. O país tem hoje uma das maiores populações de idosos do mundo: 14 milhões de pessoas. Segundo os dados, as mulheres vivem mais do que os homens e isso, de acordo com Besserman, também expressa o crescimento da violência: "Em todos os países a população feminina é um pouco mais numerosa, mas a diferença significativa verificada no Brasil pode ser atribuída à alta incidência de mortes violentas entre homens jovens."

As informações colhidas até agora pelo IBGE também revelam que a melhoria dos indicadores sociais é menor nos Estados do Norte e do Nordeste. Há, porém, uma exceção importante: o acesso à educação infantil. Enquanto em capitais como Recife, Fortaleza e Salvador 65% das crianças até cinco anos de idade estão matriculadas em pré-escolas, em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre esse percentual é de 50%. "A falta de educação infantil, associada às dificuldades de sociabilização provocadas pela pobreza e pela violência, pode causar danos irreversíveis", alertou Besserman.

alesp